Marca Propõe Mudança e Dilema Sobre Preconceito

No dia da Consciência Negra, publicamos essa iniciativa da Açúcar Guarani para suscitar reflexões. 

Você concorda que aquele doce de infância chamado Teta de Nega passe a se chamar Chocomelow? Ou que o Espera Marido seja rebatizado como Barba do Vovô?

Dilema entre defensores do politicamente correto e tradicionalistas foi criado pela campanha do Açúcar Guarani ao propor a troca de nome de alguns doces centenários por outros que não possam ser interpretados como preconceituosos.

A campanha,  batizada de “Respeito Na Medida”, convida consumidores a contribuírem com sugestões para rebatizar receitas como Maria Mole, Espera Marido, Teta de Nega, Bolo Nega  Maluca e disponibiliza canal para votação online para que elas ganhem novas identidades.

Seria melhor chamar Maria Mole de Molengo de Coco?

“Nossa ideia é fazer as pessoas refletirem sobre esses nomes de receitas que parecem tradicionais e inofensivos, mas que acabam ofendendo as mulheres”, diz Gustavo Segantini, diretor comercial do grupo Tereos, a quem Açúcar Guarani pertence.

A campanha vai, ainda, reverter cada voto recebido no site em doação de um real direcionado para a Organização Mãos de Maria. O projeto, que cresceu dentro da comunidade de Paraisópolis e já atendeu a mais de 4 mil mulheres, hoje é um negócio de impacto social no ramo alimentício e traz um espaço de fala para a população feminina em situação de vulnerabilidade social, promovendo autonomia econômica e capacitação profissional.

Além do apoio popular para rebatizar os nomes dos doces via votação no site, a campanha também vai realizar um trabalho para conscientizar padarias a alterarem voluntariamente a denominação de suas receitas e exibir os materiais informativos sobre a iniciativa em seus pontos de venda.

Mas essa tentativa de trocar o nome desses doces tradicionais não é nova. Cinco anos atrás uma padaria na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, resolveu rebatizar a torta Nega Maluca por “bolo afrodescendente”.

Em março/22, esse mesmo nome foi usado pela padaria Aveiro, em São Paulo, ao informar que “a partir de agora o nome do bolo de chocolate deixou de ser “nega maluca” e passou a ser “afrodescendente”, a “língua de sogra” agora será “pão doce mole”, “Maria Mole” passa a se chamar “sorvete mole” e “teta de nega”, “Nha Benta”.

A padaria, na verdade, atendeu a um ofício encaminhado pelo Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado, datado de 25 de agosto de 2021, onde afirma que “o mundo tem mudado constantemente e o nome de doces, que antes eram aceitos, não são mais bem vistos e podem causar “constrangimentos e acusações de crime racial, machismo e preconceito”. É pedido para os associados tomarem cuidado com nomes que possam ser mal interpretados. (ver matéria publicada no Correio Braziliense).

REAÇÕES – Mas há quem não concorde com esse posicionamento da campanha. A marca publicou vídeo com mulheres adultas falando o nome do doce e, em seguida, crianças aparecem chamando as delícias de outros nomes.

– Alguns doces são deliciosos, mas têm nomes completamente indigestos, que ofendem as mulheres. Chegou a hora de mudarmos essa realidade. Apoie a Guarani nesse projeto – diz a publicação da marca.

Mas houve reações no Instagram, onde puderam ser lidos comentários como:

Sério, Guarani, que com tanta coisa pra fazer vocês têm coragem de fazer campanha pra mudar nome de doce?!? A pessoa que inventou isso devia ter vergonha… – escreveu uma usuária da rede social.

Comecem trocando a mascote de vocês, tirem a ruiva branca e coloquem um(a) indígena… antes de quererem lacrar com os outros, façam o dever de casa – disse outro usuário.

(Curiosamente, a marca antiga do açúcar trazia a imagem de um cacique Guarani).

Em 2019 uma consumidora da marca Dr. Oetker publicou no Reclame Aqui pedido para que a empresa alterasse o nome de doce por se “sentir ofendida com o nome Bolo Nega Maluca, porque essa é uma expressão associada às mulheres negras. Embora, apesar desse termo ser pejorativo e construído historicamente como arquétipo negativo que reprime e violenta a nossa humanidade enquanto mulheres negras”.

Em 04/04/2019 a empresa respondeu por aquele mesmo canal:

“A Linha de Bolos Delícias do Brasil está no mercado desde Jun/2004 e, como o próprio nome diz, reúne alguns dos bolos brasileiros mais típicos: Bolo Coco Gelado, Bolo Bombocado, Bolo Nega Maluca, Bolo de Cenoura e Bolo de Leite.

Digitando receita de bolo nega maluca no Google, encontram-se 646.000 resultados de busca, um número alto, que comprova a popularidade da receita.

A tradicional receita tem origem bastante antiga, segundo o Wikipédia:
Nega-maluca é um bolo muito popular em Portugal e no Brasil. É feito com chocolate, farinha de trigo, açúcar e ovos. Normalmente, leva uma cobertura feita com chocolate e leite condensado, o brigadeiro. Existem 2 versões sobre a origem de seu nome. Uma diz que o bolo foi criado no Brasil por volta de 1840, acidentalmente por uma escrava que derrubou chocolate na receita de outro bolo. Ela não sabia falar português e como ninguém entendia o que ela dizia, ela era chamada de nega maluca. Assim passando seu apelido ao bolo. A segunda versão repete a data de criação e o fato de ter sido criado por uma escrava, porém explica o nome pela substituição do leite por água fervente e da manteiga por óleo, o que não era usual nas receitas antigas. A troca maluca de ingredientes, então, inspirou o nome.

A Dr.Oetker vê nesta linha de produtos, inclusive com a preservação dos nomes originais das receitas já consagradas pelo costume e uso popular, como uma homenagem à rica cultura brasileira e as suas origens.

Contudo, seu contato foi encaminhado ao setor pertinente para conhecimento.

Atenciosamente.

Equipe Canal Aberto Dr. Oetker”. 

QUEM É – Açúcar Guarani pertence ao Grupo francês Tereos, segundo maior produtor mundial de açúcar, que está presente em 13 países e conta com 19.800 colaboradores em unidades por todo o mundo.

Ao se analisar o site da empresa, vê-se que sua área de Responsabilidade Social se concentra prioritariamente na área ambiental e única referência à área social tem base em duas informações: “Criamos o Grupo de Afinidade Mulheres no Agro (Gama) que trabalha com iniciativas para alavancar a representatividade feminina” e “Por meio do Programa Jovem Aprendiz, investimos na formação feminina para o desempenho de funções técnicas, no campo e na indústria”.

Suas aplicações na área cultural estavam sendo feitas via Açúcar Guarani, mas seu envolvimento com a lei federal de incentivo, que utilizou desde 2003, parou em 2020, quando aplicou R$ 220 mil englobando o Festival Varilux de Cinema Francês, o programa Música Para Todos e a turnê da peça Cinderella. (ver mais informações sobre a Tereos em nosso Perfil de Patrocinadores).

SERVIÇO

Para acessar a página da campanha, onde se poderá votar nos nomes propostos ou sugerir outros, siga por aqui. 

O período de votação vai até 17/12/22.

Empresa informa que para cada votação realizada o Açúcar Guarani irá doar R$1,00 à instituição Mãos de Maria, com o valor total limitado a R$20.000,00.

LEIA TAMBÉM: Todo Passado é Imutável. Só Nos Resta Compreendê-lo

LEIA TAMBÉM: Stella Adota Causa de Financiar Mulheres na Gastronomia

LEIA TAMBÉM: Artistas Levam Arte Urbana Para os Isqueiros BIC

Shopping cart close
Pular para o conteúdo