Existe literatura mais entediante do que Relatórios de Sustentabilidade das empresas, ou de Responsabilidade Social, ou Integrados, seja lá qual for o nome que criam para se justificar com acionistas?
Em geral ocupam mais de 100 páginas para convencer aos pacientes leitores que a companhia preocupa-se com a governança, com o meio ambiente e com a justiça social, sendo que iniciativas para essa última, resumidas, quase sempre são encontradas pouco antes dos créditos finais.
Algumas levam essa tarefa a sério e pagam preço alto para consultores formatarem esses documentos; outras a tomam como obrigação burocrática e outras nem dão bola para isso.
Mas, invariavelmente, o que se vê é a diferença de tratamento dedicado aos elementos que compõem a agenda ESG no Brasil. Seu foco principal, assim como ocorre nos países europeus e nos Estados Unidos, está direcionado para o meio ambiente, já que esse tema é que permeia a discussão maior dos cientistas e da população que acredita que o apocalipse se aproxima.
Mas vivemos em um universo diferente. Aqui, nossos problemas sociais estão longe de serem resolvidos e talvez ocupem o mesmo espaço de tempo de vida das árvores na Amazônia para que o sejam.
Lá a realidade é outra e justifica a preocupação central com o meio ambiente – à parte interesses econômicos envolvidos – porque as necessidades básicas da população quanto à saúde, educação, transporte, saneamento foram superadas. Por isso as empresas desenvolvidas do Ocidente se preocupam em passar mensagens sobre o que estão fazendo quanto a questões ambientais, aproveitando o balanço da onda da emergência climática como se também acreditassem na profecia de Antônio Conselheiro de que um dia o sertão vai virar mar e o mar virar sertão.
E entramos aqui no ponto central desse artigo – como criar um modelo que troque os entediantes relatórios anuais por uma forma de comunicação que seja clara, agradável e convincente sobre os esforços da companhia a favor da sociedade?
A Apple encontrou uma solução brilhante. Criou um filmete onde a “Mãe Natureza” ocupa a cabeceira da mesa para ouvir dos executivos o que a empresa tem feito para desenvolver produtos e ações sustentáveis para que ela, a natureza, se sinta beneficiada, prestigiada, protegida.
O filme se centra no meio ambiente pelas razões expostas acima e porque creem que suas iniciativas podem influenciar o interesse de compra de consumidores, porque é isso que os tempos atuais exigem.
Mas, à parte a escolha do tema, é a forma que mais valorizo nesse filme. Ele não é novo, foi produzido no ano passado, mas guardei o link para utilizá-lo quando me desse vontade de voltar a escrever sobre Relatórios Anuais, o que já fiz diversas vezes.
Recomendo a todos que vejam essa peça, que não deixa de ser publicitária. Mas fico pensando: por que essa solução não pode ser copiada por empresas brasileiras para mostrar o que estão fazendo quando se trata da letra S da sigla ESG?
Seria um modo mais moderno e atrativo de mostrar suas preocupações com o que se convencionou chamar de Responsabilidade Social (e não só ambiental).
Afinal, essa é a nossa prioridade como País, ou, pelo menos, deveria ser. A deles é outra.
É ou não é?
(Para ver o relatório audiovisual da Apple clique aqui).
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
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