Neste segundo artigo, em complemento ao publicado no lançamento de Valor Cultural, sob o título Empresas, Cultura, Patrocínio. É Preciso Discutir Essa Relação, levantamento exclusivo mostra como a nova Política de Sustentabilidade adotada pela maioria das empresas despreza a transparência quanto ao uso que fazem do incentivo fiscal e está levando ao paulatino desaparecimento de seus sites de qualquer referência ao envolvimento com cultura.
Consta no Relatório Anual da EDP:
“Em 2020, realizamos a revisão da estratégia do Instituto, baseada na Nova Ética dos Negócios e nos pilares de sustentabilidade da Companhia. A reformulação da estratégia buscou responder aos anseios da sociedade e do mercado, além do desejo da Companhia de ampliar sua capacidade de gerar valor e endereçar os impactos socioeconômicos gerados pela pandemia”.
Essa “nova ética dos negócios”, citada em relação ao Instituto EDP, pode muito bem ser vista como vitrine em quase todos os sites visitados ultimamente por Valor Cultural, e em quase todos há dois pontos em comum: a transparência nula, ou quase nula, que dão ao uso que fazem das leis de incentivo em projetos culturais e sociais, e ao sumiço galopante das referências que havia quanto a Política de Patrocínio, formulário de propostas, critérios para apoio, à clareza de seus interesses, enfim.
A ausência da transparência se torna ainda mais relevante quando se sabe que os anos de 2019 e 2020 foram quando as empresas mais utilizaram a lei federal de incentivo no patrocínio à cultura. Em cada um deles foi aplicado o total de R$ 1,4 bilhão, com detalhe essencial para compreensão do argumento: em 2019 a participação das companhias com dinheiro do próprio bolso representou 0,96% do total (a porcentagem mais baixa já registrada desde 1993); e, em 2020, 1,64%.
Esse cálculo não está levando em conta a utilização dos benefícios de leis locais e nem as que amparam exclusivamente idosos, saúde, crianças e adolescentes e Fundos, ao que se somaria outro bilhão.
Esse volume considerável de dinheiro público forma uma manta obscura sobre as aplicações feitas pelas empresas, neste exato momento em que agitam a bandeira hasteada pela agenda ESG, em que o envolvimento com o social deveria ser mais transparente e a governança deveria exigir clareza nas estratégias formuladas “para responder aos anseios da sociedade”. Em geral esses anseios estão sendo atendidos com dinheiro público.
A “nova ética dos negócios”, pelo jeito, deixou a cultura de lado. É certo que a EDP, citada no início desse artigo, aplicou quase toda a verba disponível com renúncia fiscal nas reformas do Museu da Língua Portuguesa e Museu do Ipiranga, mas houve pouca transparência quanto a esse envolvimento. Há uma breve menção no site da empresa, mas quanto foi aplicado?
O levantamento que publicamos a seguir reforça os argumentos do artigo original – as empresas nem estão se incomodando mais em mostrar o que estão fazendo com a renúncia fiscal e justo num momento em que batem recorde no uso do incentivo.
Pesquisamos os sites de centenas de empresas, e seria possível formar lista com pelo menos cem exemplos onde o interesse em mostrar o que fazem está cada vez menor.
Isso pode ser irrelevante para todos aqueles que foram beneficiados pelo patrocínio, já que importante é o apoio que recebem para realizar suas propostas.
Também pode ser considerado relevante que tanta verba seja endereçada para projetos sociais e culturais, num País que não tem política de cultura e possui um Governo que não se interessa por ela e que derrubaria essas leis se pudesse.
Mas vamos pensar um pouco: as empresas estão direcionando, somente com uso da lei Rouanet, R$ 1,4 bilhão para projetos culturais anualmente.
Como já citado, sua participação direta está na casa do 1% desse valor. Em 2020, por exemplo, foi aplicado exatamente R$ 1.496.068.481,08 e elas colaboraram com apenas R$ 24.643.567,58.
Repetindo: R$ 24 milhões.
Não era para elas terem a responsabilidade de mostrar de que forma estão fazendo uso de R$ 1,4 bilhão do dinheiro público?
Não era para elas oferecerem clareza de como manejam essa verba, colocando em seus sites Políticas de Patrocínio, critérios que usam para apoiar projetos, campos de encaminhamento de proposta, preferências, prazos de encaminhamento e publicação, de que forma os projetos são avaliados e quem faz esse trabalho, relação de quem foi beneficiado, com nome do proponente e valor que cada um recebeu?
Era. Não é necessário lei que obrigue cada empresa a fazer isso. É uma questão ética, de transparência, de Governança.
Isso é algo que precisa ser cobrado por todos aqueles que têm envolvimento com a área cultural e que se importam por ela.
Porém, a discussão que propomos está acima disso e seu ponto central é:
E se não houvesse incentivo fiscal? Como seria o envolvimento delas com cultura?
Elas precisam parar e refletir.
Porque está provado: marketing cultural já não interessa. Detalhar para o seu público o que fazem também não interessa.
Elas só querem fazer uso do incentivo fiscal.
E só estão enxergando isso.
Com ESG e tudo.
(Acompanhe a seguir resumo de 41 empresas que tiraram de suas plataformas referências que havia quanto ao seu envolvimento com cultura).
E na próxima semana será publicado o terceiro capítulo dessa trilogia, com o tema: Elas usam verbas diretas para muitas outras coisas. E a pergunta: Por que se mistura Responsabilidade Social com Arte e Cultura?
E também é bom avisar que temos o maior interesse em mostrar aquelas empresas que estão no trilho certo da transparência – não são muitas, mas vocês saberão por aqui.
Consta no Relatório Anual da EDP:
“Em 2020, realizamos a revisão da estratégia do Instituto, baseada na Nova Ética dos Negócios e nos pilares de sustentabilidade da Companhia. A reformulação da estratégia buscou responder aos anseios da sociedade e do mercado, além do desejo da Companhia de ampliar sua capacidade de gerar valor e endereçar os impactos socioeconômicos gerados pela pandemia”.
Essa “nova ética dos negócios”, citada em relação ao Instituto EDP, pode muito bem ser vista como vitrine em quase todos os sites visitados ultimamente por Valor Cultural, e em quase todos há dois pontos em comum: a transparência nula, ou quase nula, que dão ao uso que fazem das leis de incentivo em projetos culturais e sociais, e ao sumiço galopante das referências que havia quanto a Política de Patrocínio, formulário de propostas, critérios para apoio, à clareza de seus interesses, enfim.
A ausência da transparência se torna ainda mais relevante quando se sabe que os anos de 2019 e 2020 foram quando as empresas mais utilizaram a lei federal de incentivo no patrocínio à cultura. Em cada um deles foi aplicado o total de R$ 1,4 bilhão, com detalhe essencial para compreensão do argumento: em 2019 a participação das companhias com dinheiro do próprio bolso representou 0,96% do total (a porcentagem mais baixa já registrada desde 1993); e, em 2020, 1,64%.
Esse cálculo não está levando em conta a utilização dos benefícios de leis locais e nem as que amparam exclusivamente idosos, saúde, crianças e adolescentes e Fundos, ao que se somaria outro bilhão.
Esse volume considerável de dinheiro público forma uma manta obscura sobre as aplicações feitas pelas empresas, neste exato momento em que agitam a bandeira hasteada pela agenda ESG, em que o envolvimento com o social deveria ser mais transparente e a governança deveria exigir clareza nas estratégias formuladas “para responder aos anseios da sociedade”. Em geral esses anseios estão sendo atendidos com dinheiro público.
A “nova ética dos negócios”, pelo jeito, deixou a cultura de lado. É certo que a EDP, citada no início desse artigo, aplicou quase toda a verba disponível com renúncia fiscal nas reformas do Museu da Língua Portuguesa e Museu do Ipiranga, mas houve pouca transparência quanto a esse envolvimento. Há uma breve menção no site da empresa, mas quanto foi aplicado?
O levantamento que publicamos a seguir reforça os argumentos do artigo original – as empresas nem estão se incomodando mais em mostrar o que estão fazendo com a renúncia fiscal e justo num momento em que batem recorde no uso do incentivo.
Pesquisamos os sites de centenas de empresas, e seria possível formar lista com pelo menos cem exemplos onde o interesse em mostrar o que fazem está cada vez menor.
Isso pode ser irrelevante para todos aqueles que foram beneficiados pelo patrocínio, já que importante é o apoio que recebem para realizar suas propostas.
Também pode ser considerado relevante que tanta verba seja endereçada para projetos sociais e culturais, num País que não tem política de cultura e possui um Governo que não se interessa por ela e que derrubaria essas leis se pudesse.
Mas vamos pensar um pouco: as empresas estão direcionando, somente com uso da lei Rouanet, R$ 1,4 bilhão para projetos culturais anualmente.
Como já citado, sua participação direta está na casa do 1% desse valor. Em 2020, por exemplo, foi aplicado exatamente R$ 1.496.068.481,08 e elas colaboraram com apenas R$ 24.643.567,58.
Repetindo: R$ 24 milhões.
Não era para elas terem a responsabilidade de mostrar de que forma estão fazendo uso de R$ 1,4 bilhão do dinheiro público?
Não era para elas oferecerem clareza de como manejam essa verba, colocando em seus sites Políticas de Patrocínio, critérios que usam para apoiar projetos, campos de encaminhamento de proposta, preferências, prazos de encaminhamento e publicação, de que forma os projetos são avaliados e quem faz esse trabalho, relação de quem foi beneficiado, com nome do proponente e valor que cada um recebeu?
Era. Não é necessário lei que obrigue cada empresa a fazer isso. É uma questão ética, de transparência, de Governança.
Isso é algo que precisa ser cobrado por todos aqueles que têm envolvimento com a área cultural e que se importam por ela.
Porém, a discussão que propomos está acima disso e seu ponto central é:
E se não houvesse incentivo fiscal? Como seria o envolvimento delas com cultura?
Elas precisam parar e refletir.
Porque está provado: marketing cultural já não interessa. Detalhar para o seu público o que fazem também não interessa.
Elas só querem fazer uso do incentivo fiscal.
E só estão enxergando isso.
Com ESG e tudo.
(Acompanhe a seguir resumo de 41 empresas que tiraram de suas plataformas referências que havia quanto ao seu envolvimento com cultura).
E na próxima semana será publicado o terceiro capítulo dessa trilogia, com o tema: Elas usam verbas diretas para muitas outras coisas. E a pergunta: Por que se mistura Responsabilidade Social com Arte e Cultura?
E também é bom avisar que temos o maior interesse em mostrar aquelas empresas que estão no trilho certo da transparência – não são muitas, mas vocês saberão por aqui.
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