E conheça ainda qual o perfil investidor do Banco em projetos de cultura e Responsabilidade Social. Há coisas surpreendentes.
O mote da nova campanha do Banco BTG Pactual é uma frase a ser respondida: “o que é excelência para você?”. Para embalar a campanha, e firmar o conceito de excelência que deseja transmitir, escolheu como linguagem a arte de rua e buscou a contribuição de Paulo Cesar Silva, um dos grafiteiros/muralistas mais renomados do Brasil, conhecido como Speto.
A iniciativa de utilizar o talento de Speto como símbolo da campanha visou passar a mensagem de que é imprescindível a todo artista buscar a excelência na hora de realizar uma obra. E que a excelência só pode ser alcançada quando há ferramentas disponíveis para sua execução confortável e segura. Para dotar essas ferramentas ao artista, BTG contratou a agência Dionísio.AG.
Speto desejou criar algo que estabelecesse conexão com as pessoas, provocando, no público, empatia em relação aos elementos ali presentes. Entre os elementos utilizados há um pássaro, animal que, segundo ele, transita entre o céu e a terra, podendo ser interpretado como um ser divino, figura que representa esperança e paz e eleva os sentimentos humanos.
Outro elemento é o Sol, figura constantemente associada ao altruísmo, energias positivas, acolhimento, segurança, vida e prosperidade.
O resultado do trabalho de Speto pode ser visto na empena de 35 metros de altura situada em prédio da Avenida Santo Amaro, em São Paulo.
(ver abaixo teaser da campanha).
PLANOS ANUAIS — O Banco, com suas subsidiárias, já utilizou R$ 35 milhões somente com incentivo fiscal federal para apoiar projetos culturais. A campanha com Speto não entra nessa conta por ser investimento direto. Somente em 2023 foram aplicados R$ 5,8 milhões via lei Rouanet.
Mas a quem o BTG direciona sua verba incentivada? Pode-se dizer que a maioria das aplicações vai para planos anuais de entidades como Museu de Arte Moderna, TUCCA, Museu Judaico e Instituto Baccarelli, seu parceiro inclusive nessa ação com o grafiteiro.
Costuma utilizar quase todo seu arsenal de empresas para angariar “budget” para direcionar a projetos. Em 2022 foram utilizadas seis. Em 2023 foram cinco, cujos investimentos somados bateram recorde de aplicação. (ver gráfico abaixo).
No ano passado a subsidiária mais utilizada para maior diversificação de apoio foi BTG Pactual Serviços Financeiros, com preferência para quatro áreas.
É por ela que algumas ações socioculturais são apoiadas diretamente e Humanidades é uma das áreas preferidas. Em 2023 patrocinou Paraisópolis Cultural e Projeto de Atividades Socioculturais do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil ITACI 2024/2025, o que vem fazendo continuamente.
Para Artes Cênicas preferiu Cultura e Arte no Sertão 2, do Instituto Novo Sertão, e o Ballet de Paraisópolis.
De Artes Visuais escolheu Caminhão de Histórias, com baú que se transforma em galeria de arte com exposição dirigida ao público infantil para percorrer Praças das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Proponente foi LPF — Eventos Cariocas, que arrecadou R$ 2 milhões, sendo R$ 150 mil do BTG (CCR, via Concessionárias do Sistema Anhanguera – Bandeirantes, compareceu com R$ 1 milhão).
Demais investimentos dessa empresa foram semelhantes à das outras controladas, apoiando diversos planos anuais de instituições sem fins lucrativos. De diferente houve aplicação em projetos como Midiateca Pontos de Luz (manutenção de acervos), Teatro de Afásicos (oficinas) e ampliação do Memorial do Holocausto.
Em 2022, entre as ações patrocinadas estiveram Busão das Artes (exposição móvel em praça pública), Polo Vozes das Periferias 2ª Edição, Sons da Sustentabilidade (ação de capacitação), Formação em Documentário e Cinema Etnográfico (audiovisual), A Rã e o Tempo (livro de Valor Literário), entre vários outros de diversas áreas.
TRANSPARÊNCIA – Banco anuncia que abrirá em julho novo edital para patrocínio a projetos, mas seu mérito está em disponibilizar informações públicas muito mais abrangentes e permanentes Tem um programa de aceleração de entidades chamado SOMA, um portal de Responsabilidade Social com espaço para encaminhamento de proposta, divulga organograma sobre como os projetos são analisados, detalha critérios para apoio, publica os projetos que apoia (embora não todos), descrimina as entidades que receberam apoio, possui Política de Responsabilidade Social e Relatório exclusivo sobre esse assunto.
Pontos negativos: a cultura não está entre os três pilares que definiu para sua política de responsabilidade social. Em seu Relatório afirma que o Banco escolheu apoiar três causas diretamente: educação, meio ambiente e empreendedorismo. A essas, portanto, faz investimentos diretos, como dito.
Nesse ponto o BTG Pactual incorre no mesmo equívoco da maioria das grandes empresas que utilizam incentivo fiscal federal para patrocinar cultura. É como se esse universo não existisse dentro de seu espectro de atuação e isso pode ser verificado assertivamente em todos os pontos de seu site ou em seu Balanço Anual, especialmente ao ler o item Incentivos Fiscais de seu Relatório de 2023, onde está escrito:
“Empresas que tributam por lucro real têm a oportunidade de destinar parte do seu Imposto de Renda devido para projetos sociais. Em 2023, o BTG Pactual destinou R$ 30 milhões para 55 organizações comprometidas com as mesmas causas sociais do Banco”.
No Relatório referente a 2022 estava assim:
“Por meio das leis de incentivo fiscal, as empresas podem direcionar parte de seu Imposto de Renda devido a projetos sociais. Usando esse benefício, destinamos, em 2022, mais de R$ 12 milhões a projetos sociais, impulsionando o impacto de organizações que trabalham com temas ligados aos nossos pilares estratégicos de atuação”.
A menção a incentivos, portanto, são daqueles direcionados para organizações sem fins lucrativos que abrangem suas áreas de interesse, embora cultura possa estar envolvida nesse meio indiretamente.
As aplicações com lei Rouanet, ou carioca, estão em outra esfera. Qual? Não explica, mas é possivelmente de marketing. (Obs: examinamos sempre as informações disponíveis publicamente, seja em sites ou relatórios).
Várias outras ações são mencionadas, inclusive os projetos próprios em áreas de Educação, Voluntariado e Empreendedorismo.
O Relatório de 2023 foi mais amplo e detalhado sobre o envolvimento do Banco com a área de Responsabilidade Social do que o anterior, citando inclusive as entidades que receberam apoio no ano, o que não ocorreu na versão anterior. (para ver o Relatório 2023 clique aqui).
Sua Política de Investimento Social Privado menciona apenas os seus pilares de interesse.
Dessa forma, observando esse espectro, o BTG se situa na vala comum da maioria — desconsidera a cultura como área de Responsabilidade Social, especialmente a incentivada, mesmo o Banco tendo se beneficiado de R$ 35 milhões com redução de impostos.
Ao anunciar que em julho será aberto novo edital, empresa afirma:
“Se você tem um projeto que visa contribuir com educação, meio ambiente e/ou empreendedorismo aprovado por uma das leis de incentivos fiscais e gostaria de ser analisado pelo BTG Pactual, consulte nosso edital e faça a sua inscrição”.
E sobre cultura, se inscreve por onde?
A ligação do BTG Pactual com cultura não surpreende — vem de longe e isso é louvável. Porém, outras empresas também têm, mas não mostram interesse em divulgar o que fazem e como utilizam a renúncia fiscal que tanto a beneficiam. E o BTG é uma delas.
Por que será?
Já que é tão detalhista quando se trata de investimento social, o que também é louvável, resta perguntar ao Banco:
“O que é excelência para você quando se trata de transparência com uso do incentivo fiscal federal em projetos culturais?”.
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
CRÉDITO
As imagens da campanha são de Davi Ferrini.
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