Vários elementos surpreendentes ocorreram no ano passado com utilização da lei Rouanet. Um deles foi o crescimento, comparado a 2023, de 25,75% do número de empresas que aderiram ao patrocínio à cultura utilizando aquele mecanismo. Esse salto elevou o teto a outro patamar, quando se analisa o que vinha ocorrendo desde 2011.
Daquele ano até 2021 – com uma exceção em 2019 – o número de patrocinadores estacionou na casa de 3.000 participantes; em 2022 e 2023, subiu para a faixa de 4.000, incluindo 2019. Em 2024 foram computados até agora 5.817 companhias que apoiaram projetos, aproximando-se, portanto, dos 6.000 investidores. Esse incremento justifica, em parte, o crescimento de 28% do total investido em projetos durante o último ano – passou de R$ 2.316.179.741,62 em 2023 para R$ 2.965.292,541,46 (número ainda parcial).
Porém, mais do que o crescimento do volume de empresas patrocinadoras, ou da elevação da verba aplicada em projetos, outro fenômeno inédito ocorreu sem que ninguém percebesse, pelo menos até agora.
As empresas não estão mais deixando para realizar em dezembro o grosso das aplicações nos projetos escolhidos, praxe corriqueira desde a implantação da lei. O que se verificou em 2024 é que metade da verba foi diluída ao longo de janeiro a novembro, com as menores aplicações ocorridas nos dois primeiros meses, mas com incrementos importantes de março a novembro.
Como é possível observar na tabela abaixo, os meses de junho, agosto e outubro absorveram investimentos na faixa de 5% do total aplicado.
Se novembro foi um mês chave, chegando a 6% do total, o mais importante, exceto dezembro, foi setembro.
Naquele mês foram realizadas operações que atingiram o percentual de 9,48% do total aplicado, o que significou o valor de R$ 281 milhões.
Em termos absolutos: de janeiro a novembro foram aplicados em projetos R$ 1.472.834,794,71 (49,67%). Em dezembro, R$ 1.492.292.412,34 (50,32%). Isso jamais isso havia ocorrido.
TENDÊNCIA – Porém, ao se analisar os números de anos anteriores, verifica-se que essa era uma tendência corrente desde 2021.
Naquele ano, 71,29% da verba das empresas foram aplicadas em dezembro e apenas 28,71% nos demais meses.
Em 2022 houve diminuição para 66,60% em dezembro e 33,40% de janeiro a novembro. Conforme mostra tabela abaixo, houve aplicação de 6,11% em junho e 7,66% em setembro. Novembro ficou somente com 5,62%. Janeiro, fevereiro, abril e maio absorveram menos 1% do total.
Os números de 2023 já mostravam que a paridade estava se aproximando. Do volume total investido, 58,52% foram aplicados em dezembro. O percentual de janeiro a novembro foi de 41,48%.
Verifica-se que, diferentemente do ano anterior, apenas os meses de janeiro e fevereiro ficaram abaixo do nível de 1% da aplicação total.
Percebe-se que meses-chave como junho e setembro tiveram menores investimentos em relação a 2022, compensados nos meses março, agosto, outubro e novembro.
Então, quando se volta a analisar a tabela de 2024, está claro que a verba total aplicada foi diluída ao longo de 11 meses do ano, deixando pouco mais da metade do “budget” para ser utilizada em dezembro, geralmente nos últimos dias do ano.
Por que essa observação é importante?
Porque ficou evidente que, à exceção de janeiro e fevereiro, quando o nível de fechamento de contratos está abaixo do 1%, todos os meses contam para envio de proposta.
Derruba-se, portanto, o mito de que as empresas patrocinadoras esperam dezembro para aplicar toda, ou quase toda, sua verba disponível.
E isso é uma boa notícia para quem procura patrocínio.
A má notícia é que:
Foram apresentados 14.221 projetos por Pessoa Jurídica em 2024.
Foram aprovados 11.438.
E conseguiram patrocínio somente 4.986, o que representa bem menos da metade do nível de sucesso. (43,58%).
Foram solicitados R$ 17.075.090.433,21, mas somente R$ 2.965.292,541,46 foram captados.
Se servir de consolo, mesmo assim esses números foram melhores do que em 2023.
Naquele ano 10.726 projetos foram aprovados e somente 3.729 conseguiram patrocínio. Percentualmente, apenas 34,7% conseguiram alguma verba de empresas.
Foram aprovados para captação R$ 15.877.248.081,09, mas os proponentes só conseguiram tirar das empresas R$ 2.316.179.741,62, o que representou apenas 17,3% do total disponível.
Moral da história: esses números são bastante frente ao que era e bem pequenos frente ao que pode ser.
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
SERVIÇO
As tabelas e gráficos exibidos nessa página são oriundos de dados colhidos da plataforma Salic Comparar, do Ministério da Cultura, até 27/01/2025.
LEIA TAMBÉM
Não se Engane! Ainda Não Nos Livramos Totalmente da Propina Cultural
Rouanet Rompe Todos os Parâmetros. Inclusive na Inserção de Novas Empresas
Imagem da homepage foi gerada por IA.