Nova Fome Está Crescendo no Brasil: a de Ler Livros

2021 não foi um ano de somente notícias ruins – uma boa é que de janeiro a dezembro o mercado editorial brasileiro teve aumento de 30,52% no volume de vendas de livros no País em comparação ao ano anterior, conforme a pesquisa Painel do Varejo de Livros no Brasil, do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Em 2020, de acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, da Nielsen Book, com coordenação da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do SNEL, foi registrada uma queda de 18,4% nas vendas, o que indica que, apesar de a pandemia continuar circulando mês a mês, em 2021 o setor indicou uma clara retomada do interesse de brasileiros pela leitura.

Outro dado importante é que a 1ª Bienal Virtual Internacional do Livro de São Paulo, realizada em ambiente virtual por conta do coronavírus, teve 1,33 milhão de visualizações — o dobro do número de pessoas que passaram pelo pavilhão do Anhembi na edição de 2018 da Bienal, quando recebeu 663 mil visitantes. Foram mais de 190 horas de programação, 100 expositores, 220 autores nacionais, oito estrangeiros e 114 reuniões de negócios com compradores internacionais. E a 63ª edição do Prêmio Jabuti, principal premiação de literatura do país, realizada em novembro, chegou a 3,4 mil inscrições, 31% a mais do que no ano passado.

Movimento relevante também foi a revitalização das pequenas livrarias, pois as grandes, impactadas por fatores como má gestão e preferência por consumidor a adquirir produtos pela internet, fecharam portas, especialmente as localizadas em Shopping Centers.

Para Eduardo Villela, consultor editorial e profissional com mais de 16 anos no mercado, esse movimento se dá por diversas razões.

“As grandes livrarias, normalmente localizadas em shoppings, possuem custos fixos elevados como aluguel do espaço, folha de pagamento, entre outros gastos e têm a proposta de vender livros de todas as categorias, mas é muito frequente o leitor não encontrar o título que procura e não ter o apoio necessário quando precisa de atendimento, já que, apesar de tudo, o número de funcionários não é suficiente e com isso fica a desejar no atendimento.

“Já com as livrarias menores, inclusive as especializadas em um único nicho, como livros de ficção infanto-juvenil ou técnicos, disponibilizam um acervo bastante completo aos clientes. Além disso, elas oferecem um atendimento mais personalizado e profissional, feito por poucos funcionários bem treinados ou até pelo próprio proprietário. São detalhes que fidelizam os clientes e os fazem comprar delas, mesmo sabendo que os livros quase sempre custam menos nos grandes sites. Boa parte dos clientes valoriza em primeiro lugar o bom atendimento e outras experiências, como eventos de contação de histórias, saraus e a possibilidade de interação com os autores em sessões de autógrafos, estando dispostos a pagar um pouco mais do que na internet. As lojas menores sempre terão diferenciais impossíveis de serem replicados pelo varejo online”, explica o especialista.

Apesar do momento ruim enfrentado por todos os perfis de livrarias para sobreviver, o setor deve investir na criatividade. “Não é fácil concorrer com as gigantes do e-commerce, mas o caminho para as livrarias continuarem existindo passa pela melhora do atendimento ao cliente, inovação e oferecimento de serviços exclusivos. Tenho visto, por exemplo, livrarias menores de bairro atenderem o cliente pelo WhatsApp, realizarem delivery nas proximidades, organizarem eventos online com autores etc.”, conclui Eduardo.

LOJAS FÍSICAS – Para reforçar o argumento, apesar do crescimento das compras de livros pela Internet, que as megastores estão utilizando como argumento para encobrir maus gerenciamentos, a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, publicada em 2020, indicou que a preferência dos leitores era pela compra de livros em lojas físicas: 30% dos respondentes fizeram assim e somente 9% optaram pela via online.

A pesquisa verificou também que aumentou a média de livros lidos por completo nos três meses anteriores em comparação a quatro anos antes – saltou de 4,54 em 2015 para 5,04 para 2019. Foram ouvidas 8.076 pessoas em 208 municípios, tendo como público-alvo a população brasileira residente com cinco anos ou mais, alfabetizada ou não.

E foi justamente as crianças que forneceram um dos dados mais relevantes da pesquisa. Para o item Principal Motivação Para Ler Um Livro elas foram a faixa que mais escolheram Por Gosto. Porém, essa mesma pesquisa apontou que o Brasil tem cerca de 100 milhões de pessoas que leem, mas 67% delas não contaram com alguém que incentivasse a leitura.

“Mudar esta realidade requer não apenas o esforço dos livreiros, mas também de políticas públicas para incentivar novos leitores. E algumas saltam aos olhos. É preciso, por exemplo, fazer valer a Política Nacional de Leitura e Escrita, instituída em 2018 como estratégia permanente para promover o livro, a leitura, a escrita, a literatura e as bibliotecas de acesso público no Brasil”, afirmou Vítor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro.

Mas não há muita esperança por esse caminho.

SERVIÇO

Para conhecer o Painel de Varejo de Livros no Brasil clique aqui

Para conhecer a 5ª Edição de Retratos da Leitura no Brasil clique aqui.

A imagem da homepage é de George Milton.

 

 

 

 

 

 

 

 

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