
Os gestores de museus precisam compreender – acabou a era do público contemplativo das artes exibidas e começou a era do protagonismo, vivida por uma sociedade onde todos são produtores de conteúdo.
A dificuldade de museus e centros culturais em se adequarem a esses novos tempos, que exigem que estes espaços repensem a jornada de seus visitantes e incorporem novas experiências culturais, foi um dos principais desafios do estudo “O poder do público: tendências globais para o futuro dos museus”, realizado pelo Instituto Oi Futuro em parceria com o Grupo Consumoteca e apoio do British Council.
Para fortalecer a relação entre museus e o público, a pesquisa do Oi Futuro destacou nove tendências globais para o futuro dos museus e também identificou que, atualmente, o público brasileiro se divide em quatro grupos, cada um com uma característica comportamental diferente em relação aos museus.
O primeiro é composto pelos desinteressados: aqueles que preferem consumir arte e cultura de dentro de casa e perderam o interesse pelos museus.
O segundo são os escapistas, que até frequentam museus quando há experiências sensoriais que geram uma sensação de escape, mas no geral preferem realizar atividades ao ar livre.
Terceiro grupo é formado pelos tradicionais, pessoas que adoram museus, continuam frequentando-os na mesma frequência de antes da pandemia e os consideram espaços para uma experiência clássica, contemplativa e reflexiva.
Por último, há os topa-tudo, que se engajam na programação cultural da cidade e veem arte e lazer como coisas integradas: acreditam que a cidade é um museu a céu aberto.

Para a pesquisa foram entrevistados quatro especialistas brasileiros e sete estrangeiros ligados ao universo de museus, centros culturais e festivais, que compartilharam suas reflexões sobre o atual cenário museológico e as projeções para os próximos anos. Dentre eles estão nomes como Ana Maria Maia, curadora chefe da Pinacoteca de São Paulo; Tim Neal e Alison Fraser, do britânico Science Museum Group; Marília Bonas, diretora do Conselho Internacional de Museus (ICOM Brasil) e diretora técnica do Museu do Futebol; e Hardesh Singh, diretor do festival asiático The Cooler Lumpur Festival. O estudo contempla ainda uma avaliação qualitativa com brasileiros de distintas cidades, classes sociais e faixas etárias, divididos em quatro grupos focais relacionados aos seus graus de interesse e a frequência de visitação nesses espaços.
O especialista brasileiro Marlus Araújo, fundador do MUSEU.XYZ, espaço cultural voltado para realização de exposições nos metaversos da blockchain Ethereum, acredita que os museus precisam tentar acompanhar uma sociedade em que todos são produtores de conteúdo: “Não cabe mais a visão ‘topdown’ de só trazer curadorias e dizer “venham ver isso porque isso é importante”. A relevância de um conteúdo deve ser entendida em seu contexto social. O museu tem que incentivar que o público se aproprie do conteúdo, estabelecendo uma relação com a comunidade em que ela se sinta parte do museu: “a gente tá cocriando, tá sendo coautor de uma exposição, de uma pesquisa, isso é essencial”.
Para Jonathan Goodacre, Consultor Sênior na Audience Agency, que atua na estruturação e coleta de dados com público frequentador de museus, centros e aparatos culturais no Reino Unido e exterior, “existe uma lacuna entre os funcionários das organizações culturais: de um lado, jovens que são muito bons de usar TikTok e Instagram, mas que não estão envolvidos na estruturação dos museus; de outro, os curadores e diretores artísticos de nível sênior, que são mais velhos e mais experientes, mas que pertencem a uma geração que ainda vê os museus como “um lugar físico onde você vai e vê coisas”, que têm receio de envolver as mídias sociais nos museus”.
Pesquisa mostra ainda nove cases de “museus para todas as pessoas”. No case 3 (About – Museu das Sensações) o especialista Batman Zavareze, afirma:
“Você sairia da sua casa num dia lindo de sol para ir para um lugar que não te oferece nem um bom wifi? Um lugar que não tem nem um bom ar-condicionado? Você sairia da sua casa depois do expediente, cansado, para ir para um lugar que não tem uma cervejinha gelada? Onde não dá pra ver um pôr do sol? Um local que não te oferece experiências sensoriais? Essa primeira forma de acolhimento, que passa pelo paladar, pelo tato, pelo olfato, é essencial. Ela é definidora de uma boa experiência”.
TENDÊNCIAS – Entre as principais percepções dos especialistas, está a ideia de que estes espaços precisam cada vez mais conhecer, ouvir e representar seus públicos, visando uma atmosfera de cocriação e hibridismo cultural. As nove tendências globais para o futuro dos museus, encontradas pela pesquisa, são essas.
1) Museu de todas as tribos: é aquele que traz em sua programação diferentes tipos de atividades, formatos e linguagens, atraindo um público eclético e se fundamentando como um espaço diversificado culturalmente. A proposta é que o aparato proponha atividades integrativas em variadas linguagens que atraiam novos públicos aos museus, como cafés da manhã, DJs, contação de histórias, shows etc.
2) Museu de extra-muros: é o “que não tem paredes”, se conecta com a comunidade do entorno de tal forma que a cidade inteira vive palco de exposições, shows, e atividades integrativas. Para isso, os museus devem dialogar com a comunidade do entorno para mapear e abraçar os locais de significado para eles, adotando praças e parques públicos e promovendo ações externas.
3) Museu das sensações: proporciona experiências sinestésicas, completas que possibilitam uma reconexão do visitante consigo mesmo, com seu corpo e suas sensações. Aqui, mais importante do que o conteúdo “aprendido” é a forma como ele afeta o visitante.
4) Museu figital: é aquele que traz experiências virtuais e tecnológicas únicas para dentro dos espaços físicos, aliando o melhor do mundo digital com o melhor dos aparatos museais. A proposta é atrair para o espaço físico um público interessado pela linguagem digital.
5) Meta museu: entra na casa das pessoas. O espaço já nasce virtual, acessível de qualquer dispositivo, e visa proporcionar experiências gamificadas e atrativas para públicos mais digitalizados.
6) Museu da história ampliada: é aquele que se dedica a contar a História a partir de vozes não-hegemônicas, revelando novas perspectivas sobre antigos assuntos. A ideia é que o museu atue, junto à comunidade, como um local de escuta e reverberação de novas vozes mais plurais.
7) Museu Cápsula Itinerante: é o que vai até o seu público, levando exposições e experiências únicas para locais afastados, descentralizando a oferta cultural. São iniciativas poderosas de democratização do acesso à cultura.
8) Museu Insone: abre as suas portas em horários não convencionais, proporcionando outro tipo de relação com seus espaços. A proposta é aumentar o horário de funcionamento para democratizar e expandir o acesso aos museus e centros culturais, atraindo públicos que normalmente não podem visitá-los em horário comercial.
9) Museu do Backstage: se propõe não apenas a mostrar o resultado final das obras, mas que convida o espectador a testemunhar e participar dos processos.
QUEM FEZ – O Oi Futuro é o instituto de inovação e criatividade da Oi para impacto social, que apoia, desenvolve e cocria programas e projetos transformadores nas áreas de Cultura, Educação e Inovação Social. Gerencia também o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados, que já apoiou mais de 2.500 projetos culturais em todo o país ao longo de 17 edições realizadas por editais públicos. Ainda na área cultural, idealizou e mantém o Lab Oi Futuro, no Rio de Janeiro, que oferece infraestrutura e formação para artistas, profissionais e empreendedores da Economia Criativa.
O Grupo Consumoteca é uma consultoria especializada em direcionar negócios na América Latina. Trabalha para traduzir os movimentos culturais em estratégias, sob o lema transformar dados em pessoas, e pessoas em inovação.
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