Giacomo Puccini compôs uma das óperas mais intensas e dramáticas de seu repertório, a quem deu o nome de Tosca. Ambientada na Roma do século XIX, durante as guerras napoleônicas, a trama gira em torno de três personagens principais: a apaixonada cantora Floria Tosca, o pintor revolucionário Mário Cavaradossi e o cruel chefe de polícia, Barão Vitellio Scarpia.
Cavaradossi, simpatizante de Napoleão, esconde um prisioneiro político em sua igreja. Scarpia, por sua vez, é obcecado por Tosca e a utiliza como moeda de troca para obter informações sobre o paradeiro do revolucionário. Em uma sequência de eventos dramáticos, a paixão, a traição e a busca por vingança levam os personagens a tomar decisões extremas, culminando em um final trágico.
Diálogos marcantes como o dueto entre Tosca e Scarpia, onde ela negocia a vida de seu amado, e o famoso “Vissi d’arte” de Tosca, um lamento desesperado, são momentos altos da ópera. A obra, com sua rica orquestração e melodias intensas, explora temas universais como o amor, a política e a morte, tornando-se um clássico do repertório operístico.
Porém, mesmo na Itália, onde a peça estreou no Teatro Constanzi, de Roma, em janeiro de 1900, as novas gerações, e outras nem tão novas assim, demonstram ter pouco entendimento sobra a trama cantada por soprano, tenores e barítonos. E no Brasil, onde não há a cultura de apreciar o canto lírico, o nicho de admiradores é muito pequeno, até pela dificuldade de entender sobre o que se está cantando.
Bom, e se houvesse a apresentação de uma ópera contada, em vez de cantada?
O projeto Aperiópera é uma iniciativa que transforma a experiência da ópera ao apresentar obras clássicas, como “Tosca”, em um formato narrado, em vez do tradicional formato musical. Idealizado por Cláudio Scaramella e realizado por Kátia Prado, que trouxe a ideia da Itália para o Brasil, o projeto busca democratizar o acesso à cultura operística, permitindo que pessoas sem familiaridade com a ópera possam compreendê-la e apreciá-la de uma maneira interativa e envolvente.
A proposta do Aperiópera consiste em narrar a história da ópera, utilizando um ator que apresenta os principais eventos e seus personagens. As apresentações têm duração de aproximadamente uma hora e são realizadas em ambientes que favorecem a interação com o público. Durante a narrativa, slides com imagens e vídeos são projetados, proporcionando um contexto visual que complementa a história contada. Este formato permite que o público mergulhe na trama sem a necessidade de ouvir longas árias ou recitativos, tornando a experiência mais acessível.
“A apresentação é feita por um ator e temos três atores qualificados para isso. Dura uma hora e quinze e a parte audiovisual é o ponto mais importante da apresentação. No telão passa primeiro a vida do compositor, a história do compositor e, na sequência, a história da ópera a ser apresentada, com fotos e vídeos porque é necessário interagir com a história, a mixagem e a ópera. Em alguns momentos temos pequenos vídeos, sendo transmitidos de uma maneira original”, afirma Katia.
Um dos aspectos inovadores é a inclusão de elementos sensoriais que envolvem todos os sentidos. Durante as apresentações, o público é convidado a participar de uma experiência olfativa e gustativa. Por exemplo, ao apresentar “Tosca”, são oferecidos queijos, vinhos e outros alimentos típicos da cultura italiana que fazem parte da narrativa. Assim, além da apreciação da história, os espectadores podem vivenciar sabores que remetem ao contexto da ópera.
O ambiente é preparado com aromas específicos que criam uma atmosfera acolhedora. Em colaboração com uma empresa baiana, foram desenvolvidas velas aromáticas que proporcionam cheiros agradáveis, como os de café e chocolate, para enriquecer ainda mais a experiência do público.
“Começamos as Boas-Vindas com um aperitivo e no final tem a degustação dos produtos que fazem parte da história da época daquela ópera. Nós servimos queijo pecorino romano, a muçarela, que fazem parte do contexto como uvas, vinhos, pizzas… É por isso que o projeto se chama Aperiópera”, explica Kátia.
O Aperiópera já foi apresentado em diversos locais, com um total de nove performances realizadas até o momento. As primeiras apresentações ocorreram na Itália, onde o conceito já é conhecido e apreciado. Com a aceitação positiva, Kátia trouxe o projeto ao Brasil, onde fez apresentações em São Paulo e Belém.
O formato visa atrair empresas que pretendam oferecer aos seus funcionários, clientes ou fornecedores, uma experiência sensorial diferente calcada na neurociência.
“Nossa missão é levar a ópera a todos, rompendo barreiras culturais e aproximando as pessoas desse universo. Queremos que os colaboradores, assim como o público em geral, se sintam parte dessa experiência e que a ópera se torne uma ferramenta de educação e inspiração”, afirma Kátia Prado.”
DESAFIOS – Kátia e sua equipe trabalham para estabelecer parcerias com empresas e organizações culturais que possam se interessar em apoiar o Aperiópera, especialmente instituições italianas que valorizam a promoção da cultura.
Uma das estratégias tem sido a aproximação com embaixadas e consulados, bem como a exploração de leis de incentivo à cultura, que podem facilitar a captação de recursos.
A equipe está considerando parcerias com escolas e universidades para realizar apresentações educativas, onde os alunos possam aprender sobre a ópera de maneira interativa. Essa abordagem visa não apenas promover a cultura, mas também estimular o interesse de jovens e estudantes, que podem se tornar novos apreciadores da ópera.
O modelo de apresentação do Aperiópera é flexível e pode ser adaptado para diferentes públicos e ambientes. Embora as performances sejam bem-sucedidas em ambientes menores, a equipe está aberta a realizar eventos em espaços maiores, como teatros e auditórios, aumentando assim a capacidade do público. Isso poderá incluir um formato com múltiplos atores, criando um espetáculo mais dinâmico e interativo.
ORIGEM – Kátia Prado, que está na Itália há dois meses, compartilha sua experiência como representante comercial e ex-operadora da Bolsa de Valores. Após enfrentar dificuldades em 2008, em 2015 conheceu um advogado em Roma, que a convidou para um projeto inovador relacionado à ópera, que a fez se apaixonar pela ideia. Ela mesma conta como foi:
“Eu sempre fui representante comercial e por 16 anos trabalhei na Bolsa de Valores como operadora. Em 2008, quando o mundo quebrou, eu também quebrei. E eu acabei enveredando por caminhos que me levaram a representar empresas italianas no Brasil na área de alimentos e vinhos.
“Até que em 2015 eu conheci uma pessoa aqui em Roma e nos tornamos grandes amigos. Ele passou a ser meu advogado e com o passar do tempo descobri que ele era um cantor lírico.
“A gente sempre fazia negócios juntos, ele fazia meus contatos, e em junho de 2023 ele me procurou e falou: escuta, estou com um projeto meio audacioso – eu queria levar para o Brasil e só confio em você”. E eu disse: que bom que você só confia em mim. Então me diga – sobre o que é esse projeto?”.
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
SERVIÇO
Contatos do AperiOpera:
Site: https://aperioperabrasil.com.br/
E-mail: aperioperabrasil23@gmail.com
Telefone: (11) 9345-47997
Observação da Redação: Para quem quiser conhecer o roteiro da ópera Tosca há um excelente resumo dos 3 atos na Wikipedia, neste endereço https://pt.wikipedia.org/wiki/Tosca