Recente estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que a indústria do livro fechou 2018 em queda pelo quinto ano consecutivo. No último ano, o mercado editorial apresentou queda nominal de 0,9%, o que significa um decréscimo real de 4,5%, considerando a inflação do período. Entre as categorias em destaque, os livros ‘Religiosos’ foi o que teve melhor desempenho, apresentando queda real de vendas de 2,6%. Os livros ‘Didáticos’ registraram queda real de 9,1% e o segmento de ‘Obras Gerais’ caiu 6,8%.
Nos últimos 13 anos o mercado editorial perdeu 25% de seu faturamento, de acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (Fipe) a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel).
Por que isso está acontecendo?
Eduardo Villela, que atua há mais de 15 anos como editor e Book Advisor, acompanha de perto o comportamento do mercado de livros no país e acredita que a raiz do problema está no modelo ultrapassado de relação comercial entre editoras e livrarias, onde a negociação é regida pela consignação.
“A consignação acontece quando as editoras enviam quantidades de exemplares impressos de seus livros para as livrarias, que não pagam nada por esses livros. Ou seja, elas não compram os livros, que continuam pertencendo às editoras. Elas simplesmente abrem espaços em suas prateleiras e demais móveis expositores e colocam ali as obras que receberam das editoras à venda. Como as livrarias não compram os livros e os exemplares das obras que colocam à venda em suas lojas pertencem às editoras, o seu nível de comprometimento em comercializá-los deixa muito a desejar. Isso é ruim, já que não basta apenas disponibilizar os livros nas estantes; é preciso realizar esforços e ações consistentes em loja que incentivem o leitor a adquiri-los. Só se empenha 1.000% na venda de um produto aquele varejista que efetivamente compra de seu fornecedor”.

Para ele “a consignação gera uma grande ineficiência de controle e reposição de estoques das livrarias. O processo para o reabastecimento de livros é moroso, o que faz com que o leitor muitas vezes não encontre a obra que procura ao visitar uma livraria. É o famoso: ‘Está em falta, senhor’. A consequência disso, além da frustração do consumidor, é a queda nas vendas. Esse problema estaria solucionado se houvesse a adoção, por parte das livrarias, de um sistema integrado de estoques com as editoras, assim como acontece em outros setores”.
“A pesquisa recém divulgada pela Fipe – afirma ainda Vilela – retrata muito bem, por meio de números, o cenário em que se encontra o mercado editorial brasileiro. Embora nos últimos 13 anos tenha crescido o número de exemplares vendidos, quando é feita uma divisão do faturamento pelo número de exemplares vendidos, observamos uma queda acentuada no preço médio de venda do livro”.
Para Eduardo, outras razões importantes que impulsionaram a queda das vendas nas grandes livrarias são a baixa qualidade do atendimento aos leitores nas lojas, um foco acentuado na venda de best-sellers, livros de temas da moda e obras de autores muito conhecidos em detrimento de uma menor oferta em loja para títulos sobre assuntos diversos. Ele crê ainda que a forma atual de promoção e organização de eventos nas lojas esgotou-se e não está contribuindo para atrair as pessoas para as lojas.
“Mudar esses pontos citados é, sem dúvida, um desafio que não se resolve da noite para o dia. É preciso que haja, sobretudo, uma mudança estratégica na gestão de grande parte das livrarias, deixando para trás um modelo falido de negócios que em nada contribui para o desenvolvimento do mercado livreiro no Brasil”, aconselha Eduardo Villela, que trabalha com escrita e publicação de livros desde 2004, já lançou quase 600 livros de variados temas, entre eles gestão, negócios, universitários, técnicos, ciências humanas, interesse geral, biografias e ficção infanto-juvenil e adulta. Trabalhou como editor de aquisições de livros universitários e de negócios na Editora Saraiva, editor de livros de negócios na editora Campus-Elsevier, gerente editorial de todas as linhas de publicações na Editora Gente e copublisher e diretor comercial da Editora Évora.