Artigo originalmente publicado em 12 de agosto de 2023
Aquecimento global e agenda ESG são temas que estão na ordem do dia entre humanos que gostam de trocar ideias nas redes sociais e executivos que se preocupam cada vez mais em passar mensagem correta para seus consumidores. Enquanto o primeiro tema se confunde com alterações mais locais do que globais, seus efeitos, porém, o elevam à categoria de preferido entre aqueles que decidem os caminhos para se criar boa imagem de sustentabilidade de uma empresa com base em questões como Meio Ambiente, Social e Governança.
Essa agenda, que atingiu ponto de não retorno, deu fôlego extra aos antigos defensores do meio ambiente e despertou nos jovens o interesse por uma nova especialidade que pode torná-los profissionais valiosos dentro do mercado corporativo.
E o mercado vai precisar deles porque os atuais executivos – ou pelo menos boa parte deles – ainda não conseguiram conciliar resultados efetivos com as boas práticas que a agenda exige. Dados para comprovar isso não faltam e é o que pretendemos mostrar nesse espaço de Valor Cultural por meio de uma série de matérias sobre esse assunto.

Foi relevante a pesquisa proposta pela Percepta Marketing e Comportamento e realizada pela Somatório Inteligência Direcionada, sob o título A Reputação das Empresas e a (Ainda Pouca) Maturidade da Agenda ESG, sobre a qual vamos explorar mais amiúde em post paralelo proximamente.
Por ela 85% dos 45 executivos pesquisados declararam ter como prioridade a questão ambiental, mas essa percentagem caiu para 57% quando foi mapeado o Estágio de Maturidade Calculado, isto é, o grau de implementação das iniciativas ESG. Resumindo: o que era prioridade de intenções caiu para o terceiro posto, atrás de Governança (67%) e Social (61%), quando se analisou o resultado prático. A dicotomia ficou clara.
A constatação de que ao menos ¼ das empresas abordadas não tem executivos, profissionais ou equipe designados para gestão ESG revelou que ainda há um longo caminho a percorrer.
Isso também foi corroborado em pesquisa realizada pela Korn Ferry, empresa global de consultoria organizacional, para quem as empresas brasileiras têm realizado cada vez mais iniciativas focadas em diversidade, equidade e inclusão, mas apenas 14% avaliam que seus esforços estão sendo realmente efetivos, conforme publicado pelo Estadão, que teve acesso ao relatório.
No texto, Milena Schiavo, diretora de diversidade, equidade e inclusão da Korn Ferry, afirma que “a gente percebe muitas empresas se movimentando, fazendo algo em relação a diversidade e inclusão, mas a maioria das ações ainda é superficial e não está conectada com a estratégia do negócio, nem mesmo movendo políticas e estruturas”.
Segundo ela, é comum ocorrerem iniciativas isoladas, como palestras de sensibilização e celebrações em datas comemorativas, como Dia Internacional da Mulher, Orgulho Gay ou Consciência Negra. “Isso não move o ponteiro do ponto de vista da mudança. O impacto efetivo vai vir quando elas se aprofundarem um pouco mais em questões estruturantes, por exemplo, modificar a política de atração, recrutamento e seleção”. (Para ver matéria completa no Estadão clique aqui).
Já a Kantar apontou que o público se identifica mais com marcas que defendem meio ambiente e questões sociais e 54% dos brasileiros se preocupam com questões relacionadas a água e saneamento. O estudo Who Cares, Who Does? Latam 2021, realizado pela Kantar, líder global em dados, insights e consultoria, mostra a importância de aliar o crescimento nos negócios a ações relacionadas a conceitos sustentáveis. O estudo foi feito em 7 países, com 18.300 entrevistas, e está na sua terceira edição.
O levantamento identificou algumas preferências e características importantes dos consumidores da América Latina e, de acordo com o estudo, iniciativas que impactam a sociedade são tão importantes quanto as que influenciam o meio ambiente.
Erradicação da pobreza, trabalho decente e crescimento econômico, combate à fome e incentivos à agricultura sustentável, saúde e bem-estar, redução das desigualdades e igualdade de gênero figuram entre os temas mais comentados pelo público, indicando que o foco principal no meio ambiente adotado pelas empresas nacionais pode não estar sendo a abordagem mais recomendável.

DESCONHECIMENTO – O interesse, porém, por essa agenda, não se limita apenas às grandes companhias, mas esbarra no desconhecimento quando se trata de pequenas e médias empresas, conforme revelou sondagem feita pelo Comitê ESG da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP).
Quase um quarto dos entrevistados apontou a falta de conhecimento – ou seja, não saber identificar o que fazer neste sentido – como barreira para adoção dos critérios ESG. Porém, a maior parte dos pequenos e médios comerciantes (46%) considera o aspecto social o quesito mais relevante para seu negócio.
O estudo ouviu 100 empresas do comércio na capital paulista (90 com menos de 10 empregados e 10 com mais de 50), com o objetivo de avaliar o que entendem sobre as temáticas ESG e verificar se estão atuando dentro deste escopo. A porcentagem das empresas que consideram o aspecto social o mais importante superou as perspectivas ambiental e de governança (ambos com 27%). Quando perguntados sobre o segundo quesito mais importante, os comerciantes também apontaram o social (40%).
Os comerciantes citaram o desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (33%), a insuficiência de recursos financeiros (29%) e a necessidade de incentivos governamentais (24%) como principais barreiras para a adoção de práticas ESG no aspecto social.
As empresas também avaliam pouco os seus fornecedores com critérios ESG. Os quesitos mais citados por elas foram: localização na mesma comunidade ou região geográfica (22%), corrupção (21%) e programa de reciclagem (18%). No tocante às barreiras de governança, também há desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (32%), insuficiência de recursos financeiros (26%), e, diferentemente dos aspectos ambiental e social, foi apontada a falta de conhecimento (25%).
Todas essas informações convergem para o mesmo ponto: pequenas, médias e grandes empresas (em parte) precisam aprimorar mecanismos para trilhar o caminho inevitável em busca de melhor governança, apoio a demandas sociais e respeito ao meio ambiente. Quem não o fizer terá de conviver com um certo grau de arrependimento.
As citações acima formam um pequeno aperitivo para os detalhes que publicaremos na próxima segunda-feira sobre a pesquisa A Reputação das Empresas e a (Ainda Pouca) Maturidade da Agenda ESG, juntamente com longa entrevista feita com Victor Olszenski, da Percepta, sobre as dificuldades que executivos estão encontrando para implementar uma eficiente agenda de sustentabilidade e qual será o futuro que se avizinha para todos aqueles que se prepararem (ou não) profissionalmente para essas questões.
Não percam!
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural , que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
P.S.: Essa matéria foi publicada originalmente no dia 08/04/2022
CRÉDITO
As imagens acima são de Samuel Theo Manat e Pixabay. A da homepage é de Max Raviet.
Estudo Revela a Pouca Maturidade dos Executivos Para Aplicar a Agenda ESG
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