A evolução parece irreversível. A cada ano cresce o número de empresas que resolvem patrocinar cultura utilizando a lei federal de incentivo, assim como o valor total aplicado em projetos.
As tabelas abaixo revelam números que impressionam – de 2023 para 2024 houve um salto de 26,5% na quantidade de companhias que utilizam a lei e, no espaço de cinco anos, o salto foi de 58%. Significa que de 2020 para cá (sem contar 2025), 2.153 novas empresas aderiram ao mecanismo.
E se as projeções estiverem corretas, até o final de 2025 pode-se chegar a perto de 7 mil companhias se o cenário otimista prevalecer.
E muitas delas já se revelaram nesse período até a metade de outubro. Quem são elas? O que apoiaram? Que perfil de projetos preferiram? Que critérios utilizados se podem inferir com base nas suas escolhas?
Fiquei curioso para conhecer essas empresas e separei 19 delas para identificar seus interesses. A pesquisa revelou um pouco de tudo – há empresa de jogatina esportiva, outra sem fim lucrativo, outra sem sede no Brasil, aquelas que proponentes patrocinam os próprios projetos, tem fintech, tem especialista em piscina e em todo tipo de ovo, tem estaleiro, fabricante de açaí, cooperativa…
O mais comum é que a maioria dessas empresas estreantes apoiou somente um projeto e buscamos revelar aquelas que patrocinaram com muito e as que patrocinaram com pouco, observando o limite de R$ 100 mil para cima.
Nessa primeira leva estão 10 empresas identificadas. Na próxima segunda-feira revelaremos outras nove.
Além do nome da empresa, seu endereço eletrônico, sua sede e número de projetos apoiados, mostramos o que foi patrocinado, o valor aplicado e o nome do proponente para quem se interessar.
Conhecer o que as empresas fazem e no que investem está no escopo de Valor Cultural.
Conheça abaixo 10 companhias estreantes com uso da lei Rouanet.
Sede: São Paulo (SP)
Atividade: Site de apostas esportivas.
Projetos apoiados:1
Valor aplicado: R$ 2,6 milhões.
Escolha: Essa companhia de origem grega, que tem como Razão Social o nome Kaizen Gaming Brasil, fez uma única aposta para utilizar lei federal de incentivo pela primeira vez e a escolha foi para uma iniciativa de formação audiovisual voltada a jovens e adultos de regiões periféricas, combinando técnicas de produção, linguagem cinematográfica e estratégias de difusão cultural.
#EscolaDeCria!” foi uma proposta da Digital Favela Comunicação e Tecnologia, que possui extensa rede de trabalho criativo e já captou mais de R$ 5 milhões com lei Rouanet para impulsionar suas ideias.
Conhecida por patrocinar clubes brasileiros e o campeonato nacional, Betano ingressou no universo cultural bancando essa ação com exclusividade (e não com pouco dinheiro).
NEW FORTRESS ENERGY (CELBA ENERGIA)
Sede: Barcarena (PA)
Atividade: Empresa norte-americana integrada de gás natural liquefeito (GNL), com atuação em toda a cadeia de valor: aquisição, liquefação, transporte, terminais e geração de energia. É registrada como empresa domiciliada no exterior.
Projetos apoiados: 1
Valor aplicado: R$ 4 milhões.
Escolha: Sem sede no Brasil, utilizou sua subsidiária Celba Energia (PA), responsável pelo complexo energético de Barcarena (PA), para direcionar a maior verba individual, entre as inéditas, a um projeto durante 2025.
E a ação escolhida teve muito a ver com a região: a implementação do Museu das Amazônias em Belém (PA), muito por conta da COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), programada para novembro naquela capital.
Esse projeto é um sucesso de captação porque os valores nele investidos já beiram os R$ 18 milhões somente via lei Rouanet. Só a Vale entrou com quase R$ 10 milhões, utilizando também a Salobo Metais.
Proponente dessa ação é o IDG (Instituto de Desenvolvimento e Gestão).

Sede: São Paulo (SP)
Atividade: Marketing digital, comércio eletrônico e representação comercial.
Projetos apoiados: 1
Valor aplicado: R$ 1,9 milhão.
Escolha: Essa é uma daquelas situações em que o proponente também é incentivador de projeto próprio. Nesse caso a RFRL Marketing Ltda, que é a Razão Social da Agência MAK, serviu como agente do R$ 1,9 milhão direcionado ao projeto que também visou a COP 30.
Festival EcoNarrativas – Histórias pela Terra é o nome da ação que a agência resolveu patrocinar em 2025, pela primeira utilizando lei federal de incentivo. Trata-se de festival multicultural com o tema sustentabilidade, contendo apresentações públicas de contação de histórias na linguagem teatral, oficinas de artes, rodas de conversas com a população indígena, quilombolas e sertanejos e produção de livretos educativos.
Sede: São Paulo (SP)
Projetos apoiados: 2
Atividade: Mídia de mobiliário urbano.
Valor aplicado: R$ 1 milhão
Escolha: A nova Eletromidia é resultado da fusão entre duas grandes empresas do setor OOH (Out of Home – fora de casa, em português): Elemidia e Eletromidia.
Seu primeiro movimento com utilização de lei Rouanet foi para impulsionar duas ações envolvendo ações socioculturais.
A primeira engloba a execução de performances teatrais que exploram ações relacionadas à moral e inovação, destinadas a jovens e crianças matriculadas em instituições educacionais públicas sob o nome de Cultura Robótica, apresentado pela Sustentabilidade e Cultura Produções Artísticas, que recebeu da empresa R$ 280 mil.
Mas a grande cartada da Eletromidia foi para a Jornada de Imersão Digital Tech Girls, que se propôs a promover capacitação cultural, artística e tecnológica para mulheres de baixa renda por meio de: a) realização de oficinas gratuitas de formação e capacitação, nos segmentos de artes plásticas com aproveitamento de lixo eletrônico, economia criativa e cultura digital; b) exposição das peças produzidas durante as oficinas.
Seu proponente, o Instituto Acerte, conseguiu captar no mercado R$ 1,3 milhão, sendo R$ 800 mil da Eletromidia.
Sede: Atibaia (SP)
Atividade: Grupo multinacional atuante nos setores automotivo, borracha e plásticos.
Projetos apoiados: 1
Valor aplicado: R$ 612 mil.
Escolha: Na verdade não foi a primeira vez que essa empresa utilizou lei de incentivo, mas é quase como se fosse porque em 2010 ela teve uma tímida participação com R$ 50 mil no 40º Festival Nacional da Cultura (FENAC), que captou R$ 630 mil.
Quinze anos depois essa companhia, que atua como filial da multinacional Cooper Standard Holdings Inc.(EUA), voltou à ativa para impulsionar o Festival Portas Abertas, projeto multicultural de um dia, realizado em Varginha (MG, com programação gratuita. Objetivo: valorizar a cultura afro-brasileira e a regionalização das artes, fortalecendo a cadeia produtiva local e formando novos profissionais.
Intenção da Cooper foi incentivar iniciativa local, pois é em Varginha que mantém uma de suas unidades, além de Atibaia (SP) e São Bento do Sul (SC).
Também abriu, portanto, as portas para a Oficina Cult Produção e Tecnologia, proponente do Festival, que recebeu verba total: R$ 612 mil.
Sede: São Paulo (SP)
Atividade: Tecnologia financeira (fintech).
Projetos apoiados: 1
Valor aplicado: R$ 450 mil.
Escolha: Antes é bom esclarecer que essa empresa, considerada “unicórnio” desde 2021, quando uma rodada de investimento a avaliou em mais de 2 bilhões de dólares, é brasileira com operações aqui (InfinitePay) e nos Estados Unidos (JIM.com). Em 2024 teve receita de R$ 2,7 bilhões e lucro de R$ 339 milhões.
Sua incursão inédita com lei de incentivo levou-a a apoiar a programação anual do Festival RME, do Instituto Rede Mulher Empreendedora, evento que promove o acesso de milhares de mulheres a diversas expressões culturais e artísticas. Está em sua 14ª edição.
A captação total do projeto foi de R$ 977 mil. Cloudwalk e Rumo Malha Norte foram os maiores apoiadores, com R$ 450 mil cada.

Sede: Santa Izabel do Pará (PA)
Atividade: Fabricante de conservas de frutas, polpas congeladas e sorvetes.
Projetos apoiados: 1
Valor aplicado: R$ 450 mil.
Escolha: Essa empresa opera com foco na transformação de frutas tropicais, especialmente o açaí, para o mercado interno e externo, com filiais na Bahia e em São Paulo.
Foi nesta última Unidade da Federação que resolveu depositar duas parcelas de R$ 225 mil para o Natal dos Encantos, evento que celebra o espírito natalino na capital paulista, unindo espetáculo de teatro musical e exposição interativa.
Quem seduziu a empresa para seu primeiro aporte com lei de incentivo foi a B&B Comunicação.
Sede: Belo Horizonte (MG)
Atividade: Engenharia e infraestrutura.
Projetos apoiados: 2
Valor aplicado: R$ 274 mil
Escolha: O Festival Virtual de Economia Criativa teve como objetivo criar uma plataforma online interativa para apresentar a exposição de alunos de escolas públicas, promover palestras, workshops, debates e premiações, tudo dentro da área de economia criativa. Target Brasil captou R$ 567 mil, sendo R$ 153 mil dessa empresa.
Outra escolha foi o plano anual do Conectados, iniciativa para fomentar a economia criativa através de oficinas presenciais e online.
Sucesso absoluto de captação (R$ 2 milhões), teve apoio de sete empresas e a Seel contribuiu com R$ 101 mil.
Sede: Matão (SP)
Atividade: Laboratório de alimentos
Projetos apoiados: 2
Valor aplicado: R$ 255 mil
Escolha: Principal escolha dessa empresa já marca sua área de interesse. Direcionou R$ 205 mil para o espetáculo de dança O Quebra Nozes, interpretado por Renata Canova.
Esse ballet clássico foi apresentado para os moradores de Matão, interior de São Paulo, sede da empresa. (Mas fica a dúvida se a área de interesse foi a preferência por espetáculos de dança ou apoio à comunidade local).
A outra escolha de patrocínio foi mais modesta – aplicou R$ 50 mil no plano anual do Instituto Baccarelli.
Sede: Indaiatuba (SP)
Atividade: Indústria de máquinas agrícolas e motores.
Projetos apoiados: 2
Valor aplicado: R$ 250 mil.
Escolha: Restauro da igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba (SP), construída no Século XIX, foi a primeira escolha dessa empresa para utilizar lei federal de incentivo. Proposta foi da Associação Cultural Candelária, que captou R$ 780 mil, sendo R$ 100 mil da Yanmar.
Segunda proposta patrocinada, esta feita pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, foi o plano anual de atividades do Bunkyo, formado por diversas atividades culturais de caráter continuado como exposições de arte e cultura japonesa, salões de arte, festivais culturais, cursos e concursos culturais, manutenção do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, manutenção do Pavilhão Japonês e ações de manutenção e conservação predial da sede.
Esse interesse pela cultura japonesa valeu para o Instituto a aplicação de R$ 150 mil pela Yanmar.
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
SERVIÇO
Homepage: Imagem de Richard Duijnstee
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