Aplicativo da Deloitte Permite ao Cliente Transparência Para Suas Doações

Eduardo Martins*

Um dos grandes temores de empresas é ver seu nome ligado a irregularidades ou atos ilícitos e uma nuvem de desconfiança sobre patrocínios ou doações cresceu de tamanho após a promulgação da lei 12.846/13, conhecida como a lei da anticorrupção, e de sua regulamentação pelo Decreto 8.420/15.

O mecanismo de defesa para evitar contratempos foi a criação de ferramentas de compliance, expressão inglesa que pode ser entendida como o dever de estar em conformidade com leis e padrões éticos por meio de regulamentos internos e externos. Em resumo: são normas de comportamento para minimizar riscos.

Mas quando se pensa em patrocínios ou doações os riscos continuam, especialmente agora onde as empresas estão despejando milhões de reais em ações de combate ao novo coronavírus. Como saber se a entidade que recebeu auxílio financeiro vai utilizá-lo da forma correta? Se as cestas básicas fornecidas serão distribuídas para quem realmente precisa ou se equipamentos médicos cedidos ou comprados chegarão ao seu melhor destino?

E esse período pandêmico somente deu dimensão maior ao que já existia: a dificuldade que as empresas encontram para saber se seu dinheiro aplicado em projetos culturais ou sociais está sendo utilizado de forma eficiente e, sobretudo, ética.

Uma empresa de consultoria, porém, identificou essa fragilidade das empresas e criou uma solução.

D.TrackerDOA. Esse é o nome da ferramenta que a Deloitte no Brasil desenvolveu para permitir aos clientes ter certeza de que a doação, ou patrocínio, endereçada a projetos ou entidades, está sendo aplicada conforme as cláusulas de execução e orçamento firmadas entre as partes.

O software criado pela Deloitte permite não apenas cadastrar todos os contratos e verbas de doação e patrocínio, mas também fazer com que doador e donatário possam acompanhar o processo que comprova o uso correto, ou não, do investimento.

Para compreender melhor o perfil dessa companhia:  “Deloitte” é a marca sob a qual dezenas de milhares de profissionais dedicados de firmas independentes em todo o mundo trabalham em colaboração a fim de entregar serviços de Auditoria, Consultoria, Assessoria Financeira, Gestão de Riscos, Consultoria Tributária e serviços relacionados, a uma seleta carteira de clientes. Formam um conjunto de aproximadamente 300.000 pessoas, em 150 países, trabalhando na entrega desses serviços.  Essas firmas são membros da Deloitte Touche Tohmatsu Limited, uma sociedade privada, de responsabilidade limitada, estabelecida no Reino Unido, mas que trabalham de forma independente. Tem mais de 150 anos de história. Essa organização atende quatro em cada cinco companhias que formam parte do Fortune Global 500, classificação compilada e publicada anualmente pela revista Fortune com a lista das 500 maiores corporações em todo o mundo, com base na receita de cada uma.

Para explicar como essa ferramenta funciona, sua origem e seus resultados, conversei longamente com dois diretores da área de Risk Advisory (Gestão de Risco) da Deloitte, Alexandre Senas e Camila Araújo. Grande parte da conversa está aqui reproduzida. O que ficou claro é que o uso desse mecanismo passou a ser um importante diferencial dentro da disputa desse competitivo mercado de consultoria e que, por isso, a empresa não pretende oferecê-lo para companhias que não pertençam à sua carteira de clientes.

Camila Araújo e Alexandre Senas resumem abaixo as razões para a criação do software e seu funcionamento.

CAMILA

“A gente tem trabalhado com diversas empresas nos últimos anos para trazer um certo conforto para quem faz doação e saber se as doações estão sendo usadas para aquele propósito que foi destinada. Principalmente depois da lei anticorrupção as empresas ficaram muito temerosas de fazer doações e essas doações serem usadas para cobrir, eventualmente, algum ilícito ou alguma irregularidade. Não existia um processo, até então, que certificasse que aquele caminhão de cimento que eu doei para construir uma igreja foi realmente usado para construir a igreja e não na reforma da casa de alguém.

Camila: busca é pela transparência

Com esse momento do covid-19, a gente vê muita empresa fazendo doação com volumes financeiros expressivos para ajudar hospitais. Mas será que esse dinheiro de fato é destinado ao propósito que foi pensado?

Então já tem 3, 4 anos que a gente tem trabalhado para essas empresas buscando revisar os contratos de doação e patrocínio que elas têm. E ao longo desses anos chegamos à conclusão de que seria muito prudente, tanto numa visão de projeto quanto numa visão de transparência entre nossos clientes, que são os doadores, e os donatários, que a gente fizesse o trabalho de forma transparente.

Pensamos então em criar essa plataforma, mas não apenas para cadastrar todos os contratos e todas as verbas de doação e patrocínio que existem nesses contratos, mas para permitir que cada cliente-doador, quanto o donatário, possam acompanhar o processo de revisão e fazer o upload das documentações  que comprovam o uso da doação. .

Vamos supor. Ah, eu doei para uma escola no  município tal 500 computadores. Esses 500 computadores eu doei em dinheiro e deveriam ser comprados num período de 6 meses. Isso está lá no contrato com essa escola municipal. Então esse contrato é cadastrado na ferramenta, a verba específica de X mil reais para comprar esses computadores no período de tanto tempo é cadastrada na ferramenta e o donatário tem que ir comprovando como ele está fazendo a compra desses computadores e disponibilizando para uso da escola.

Então ele sobe Nota Fiscal sobre compra de computadores, eles sobe fotografia dos computadores instalados na escola, ele sobe a lista dos alunos que estão tirando proveito dos computadores, enfim, a gente sugere para ele, na ferramenta, qual o tipo de documentação que ele precisa subir. E a gente faz o trabalho de revisão. E confirma para o cliente que aquela verba foi usada para o propósito a que se destinou”.

TRANSPARÊNCIA – “E isso fica transparente na ferramenta, que tem 2 grandes propósitos: 1) acelerar o nosso processo interno, com uma equipe de projetos e atualização dos dados, porque muita coisa já pode ir direto, pois a ferramenta processa direto; e 2) que enxergo como ponto dos mais importantes, é trazer transparência paras as pontas.

Então o cliente vê como ele está sendo avaliado e o donatário, que é o responsável pelas documentações, sabe o trabalho que a gente está fazendo, e o que ele tem que subir.

Porque, faço aqui um parêntesis, muitas vezes são instituições muito simples, que ficam localizadas em lugares remotos, o camarada só tem acesso a um celular, então tem que ser uma coisa bem didática para que eles consigam operar com a gente.

Por isso a concepção da ferramenta foi justamente para trazer transparência, produtividade para o donatário porque ele não tem, muitas vezes, o computador, ou conhecimento mesmo para lidar com tecnologia, mas ele tem um celular. Então ele sobe pelo celular essas informações pra gente e a gente mantém o contato direto com ele.

É basicamente esse o contexto da ferramenta”.

ALEXANDRE SENAS

“Acho que no momento está mais forte a questão das doações, mas essa ferramenta serve também para patrocínio. Por exemplo: eu tenho um atleta em que tenho interesse em patrocinar. Então

Alexandre: ferramenta facilita o patrocínio

esse também serviria nessa ferramenta e traz transparência porque facilita. Às vezes uma pessoa quer doar, quer patrocinar, quer ajudar em alguma causa, mas ela tem receio de dar o dinheiro e pensa: será que o meu dinheiro realmente vai ter o destino correto? Então isso ajuda a fortalecer o processo de doação e patrocínio através dessa transparência. A garantia de que uma pessoa, uma empresa, vai doar e o dinheiro vai ser convertido para o objetivo ao qual ele foi destinado”.

CAMILA

“A ferramenta traz um relatório para tomada de decisão. Então a gente vê, por exemplo, o valor de 50 mil destinado para ajudar na compra de computadores para escola e esse valor tem que ser usado dentro de 1 ano. Aí vamos fazendo o acompanhamento e, ao final do ano, vamos reportar ao nosso cliente: “olha, da verba que vocês destinaram a escola só conseguiu utilizar 40 mil. Então tem um saldo de 10. Aí o cliente vai decidir se vai querer o 10 mil de volta ou vai renovar o prazo dessa doação para que a escola termine de fazer as compras.

São coisas que antigamente o cliente não tinha visibilidade, ficava perdido, não sabia muitas vezes pra que fim havia sido dado aquela verba; agora ele consegue tomar uma decisão porque a ferramenta vai mostrar: da verba total, tem isso aqui utilizado e, desse valor utilizado, tantos por cento estão comprovados. Casos de não comprovação também são repassados ao cliente e aí ele toma uma decisão – quero a verba de volta ou não vou mais seguir o contrato com você ou não vou dar a verba remanescente. Tomada de decisão”.

Software permite processo automatizado. Donatário vai inserindo dados conforme a verba está sendo aplicada e equipe da empresa faz acompanhamento para gerar demandas, ajustes e relatório final.

 

Suponhamos que eu tenha um projeto grande aprovado pela lei Rouanet, por exemplo. Ele vai ser acompanhado da mesma forma?

CAMILA

“É da mesma forma porque na lei Rouanet você tem a aprovação de uma verba, que é compensada no seu Imposto de Rendav. Se você usa a verba você deve comprovar, porque o Governo audita. Se você já tem isso controlado na ferramenta, a sua prestação de contas para o Governo fica mais fácil”.

ALEXANDRE

“Há casos em que se usa lei Roaunet. Ideia é permitir mais credibilidade para tudo, inclusive via lei Rouanet.

Por mais que o governo faça a auditoria, a empresa vai ter total transparência lá. O que não estiver correto vai ser apontado e vai ser preciso fazer um plano de ação: devolução do dinheiro ou remanejamento dentro daquilo que foi acordado”.

Quadro mostra as vantagens que a ferramenta oferece tanto para o cliente quanto para o donatário.

CAMILA

“A gente não entra na negociação do patrocínio. Isso é parte interna da empresa. Ela vai chegar pra gente e dizer: fechei esse contrato aqui e preciso que ele seja acompanhado. A gente sobe o contrato na ferramenta e orienta o donatário explicando que que aquele contrato vai ser acompanhado pela ferramenta e que ele vai ter que prover para nós o comprovante de uso dessa verba e nós vamos ficar sempre em contato com ele durante a aprovação daquele contrato.

Quando encerrar o contrato, encerra o uso da ferramenta e os serviços da Deloitte também. A gente não participa da tomada de decisão, se vai doar ou não vai doar, patrocinar ou não patrocinar.

Pode-se definir assim: é função da ferramenta prover informações para a empresa sobre o devido uso das doações ou dos patrocínios”.

Sobre se a empresa pensa em abrir para outras empresas ou pessoas que não são clientes da Deloitte.

CAMILA

“Na verdade a ferramenta é parte do trabalho de revisão. A gente não tem perspectiva, nesse momento, de oferecer a ferramenta. Porque a Deloitte é uma empresa de prestação de serviços profissionais e a ferramenta é um plus que diferencia a gente dos nossos concorrentes, vamos dizer assim. Coloca a gente num patamar diferenciado de mercado. A gente não é fabricante de software. Então, no momento, a gente não enxerga o uso da ferramenta dissociada do serviço”.

ALEXANDRE

“O que a gente leva pro mercado é uma solução. A ferramenta é uma forma de agilizar, porém, se você tiver a ferramenta, mas não tiver uma equipe especializada para fazer essas conferências, a ferramenta, por si só, não vai garantir essa transparência. Por isso que a gente chama de solução. É essa ferramenta associada a uma equipe especializada em fazer análises de doações e patrocínios”.

CAMILA

“A preocupação com a transparência e com a comunicação está ficando cada vez mais forte na sociedade e, de certa forma, o povo está exigindo esse comportamento ético, íntegro, das empresas, representantes do poder público, etc. Essa iniciativa vem a calhar nesse sentido e por isso a gente quer dar esse suporte, esse apoio”.

PATROCÍNIO – Os escritórios com a marca Deloitte, embora atuem de forma independente, estão unidas com propósito único quando se trata de patrocínio cultural com leis de incentivo.  Mozarteum, MASP e Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo foram as ações patrocinadas em 2019 com verba proveniente da Deloitte Touche Tohmatsu Consultores, Deloitte Touche Outsourcing Serviços Contábeis e Administrativos, Deloitte Brasil Auditores Independentes e Deloitte Touche Tohmatsu Auditores Independentes. Mas em anos anteriores já houve abertura de espaço para projetos de exposição e livros.

Mais informações sobre a Deloitte e seus interesses, e como encaminhar projetos para a empresa, estão disponíveis em nosso Perfil de Patrocinadores, onde mais de 1.200 empresas estão catalogadas com filtros de pesquisa e à disposição de nossos assinantes.

*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural e Perfil de Patrocinadores, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.

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