Não há cerca no galinheiro da Galinha Pintadinha, pois sua extensão vai da Ásia ao “fim do mundo”, lugar onde Marcos Luporini encontrou um cartaz sobre a passagem dela por lá. Isso ficou mais evidente a partir de abril desse ano, quando fãs de qualquer lugar do planeta passaram a poder comprar produtos oficiais após a marca inaugurar sua loja no poderoso marketplace da AliExpress, com foco voltado para os mercados da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa.
É apenas a continuação da estratégia iniciada em 2007 quando Marcos Luporini e Juliano Prado, desenvolvedores dos personagens, descobriram que no Youtube estava bombando um despretensioso e esquecido vídeo que haviam postado meses atrás. Nome da história? Upa Cavalinho.
Hoje Upa Cavalinho tem mais de 2 bilhões de views naquele canal, e o pocotó do desenho desencadeou uma trajetória que gerou 3 milhões de DVDs vendidos, centenas de produtos oficiais licenciados, peças de teatro, musicais, livros e mais de 33 bilhões de visitas, disponibilidade nos principais serviços de streaming como Netflix, HBO, Prime Vídeo e na TV Cultura, SBT e Nat Geo Kids. Talvez seja o único exemplo de franquia que tem 100% de aprovação de pais, mães e das crianças. Até ovo próprio ela vende.
Mas o que permitiu tudo isso acontecer? Como surgiu, que descobertas foram feitas no caminho, que estratégias foram adotadas para se alcançar tanta audiência?
Explorar “cases” de sucesso é um dos desejos de Valor Cultural. Durante 40 minutos Marcos Luporini detalhou sua história, de seu sócio e dessa galinha que arrebatou a admiração de crianças e adultos de forma tão avassaladora.
Da conversa saíram revelações de que o desenho só foi parar no Youtube (que nem era do Google ainda) e foi apresentado de lá para pretensos parceiro porque a grana era curta e assim se economizou motoboy.

Que a ideia era apagar o vídeo logo depois, mas ele ficou esquecido e só voltaram a vê-lo seis meses depois, quando descobriram, com o queixo caído, que ele tinha mais de 500 mil visitas, isso num tempo em que poucos conheciam o Youtube.
Que a Galinha Pintadinha foi recusada várias vezes porque não havia um projeto claro por trás e a consolidação da marca se deu com o uso de multiplataformas. Houve uma estratégia por trás disso.
Nenhum projeto nasce pronto. Não se começa uma trajetória de cima para baixo.
Quem quiser conhecer um verdadeiro, genuíno e fascinante caso de sucesso pode se inteirar de duas formas: ouvindo a conversa toda ou lendo a conversa toda.
Você decide.
Só não perca o que o galo cantou.
Ou LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA ABAIXO
Eduardo Martins – Acompanho o trabalho de vocês há muito tempo e gostaria que você explicasse o “case” da Galinha Pintadinha. Como ela foi criada e como ela se desenvolveu até chegar hoje.
Marcos Luporini – Começou mesmo em 2002, e nessa época eu trabalhava num estúdio de produção de áudio, em Campinas, e fazia tudo o que pintava por lá. Trabalhei a maior parte da minha vida como músico. E como a gente trabalhava muito em propaganda a gente tinha muito tempo livre. Então quem já trabalhou com propaganda sabe que fica quatro horas esperando o trabalho e depois tem meia hora pra entregar. Nesse tempo livre eu nem lembro qual foi a motivação inicial mesmo…. eu gostava de fazer produção infantil lá, eu sempre gostei e resolvi no tempo livre produzir umas músicas do cancioneiro… tinha lá Vera Fuzaro, que é a cantora da Galinha Pintadinha, ela também ficava por lá, que era minha amiga, e eu falei “eu produzo aqui em casa e a gente vê no que dá”. E produzi três músicas e escolhi muito bem, me veio na cabeça na hora, foi jogo rápido e com essas músicas em mãos eu fui procurar o Juliano Prado, que hoje é meu sócio, que tinha uma produtora que produzia uma animação para a web. Mas aí já foi um pouquinho pra frente.
E a gente começou a fazer o projeto, mas foi na época da bolha da internet e quando a bolha estourou a empresa dele deu uma empacada, secou o dinheiro e foi uma das empresas que explodiu junto com a bolha da Internet. E nisso o projeto parou e o único vídeo que estava pronto nessa época era o da Galinha Pintadinha. O projeto não era da Galinha Pintadinha, mas como era a única música que estava disponível a gente saiu com ela, o único videoclipe pronto, e bateu de porta em porta pra ver se a gente conseguia viabilizar a finalização do trabalho.
Só que na época a gente não sabia muito bem o que queria ou teria; era no tempo do VHS nessa época.
EM – Só tinha música, não tinha os desenhos.
ML – Não, tinha os desenhos. A música com os desenhos – um videoclip só. E no fim o DVD são seis videoclips. (ver o clip abaixo, postado em 2006).
EM – E quem fez os desenhos?
ML – Na época foi lá na produtora mesmo, primeira que pôs a mão ali foi uma desenhista chamada Ana Paula Indalêncio, ainda está trabalhando por aí, ela é muito boa de serviço, e aí a gente bateu de porta em porta sem saber muito bem o que a gente queria.
Não é que a gente ouviu não – as pessoas viam, achavam engraçadinho, mas não tinha nenhum projeto por trás, não tinha nada de muito palpável, uma ideia muito clara, e foi assim que a gente ficou perambulando por aí, mas numa dessas reuniões a gente não pôde ir presencialmente, a gente gostava muito de ir, porque ia abrindo portas, conhecendo gente do mercado, mas nessa a gente não pode e enviamos uma pessoa pra representar a gente.
E na época, como a gente era muito curto de dinheiro e para economizar um motoboy, o Juliano teve a ideia de subir no Youtube e mostrar lá, “ó a gente faz assim, sobe aqui e aparece lá”… E hoje em dia você fala em Youtube e todo mundo conhece, todo mundo acha ótimo, mas na época não era bem assim, e a gente subiu muito com o pé atrás, põe lá, como é que vai ser, depois a gente apaga e tal e até hoje a gente tem o print desse e-mail.
EM – E você pode mandar pra mim esse print? (ele enviou).
Aí a gente mandou, o cara apresentou e depois ele falou “olha, o pessoal viu, mas agora não, tal”. Então, pode apagar o vídeo? Pode apagar. Só que aí não apagou o vídeo e lá ficou e a gente seguiu e quando a gente viu, seis meses depois, tinha 500 mil views. É bastante views pra hoje, mas na época era ainda mais impressionante e com toda certeza era o vídeo mais visto do Brasil, tranquilamente. 500 mil views era muita coisa.

E quando a gente viu isso, se deu conta disso, aí virou o DVD da Galinha Pintadinha. Na época eu fazia mestrado na Unicamp e uma amiga minha tinha uma filha, um filhinho na verdade, e ela veio correndo contar pra mim e perguntou “você que fez a Galinha Pintadinha? É que “meu filho só come ouvindo Galinha Pintadinha, só dorme ouvindo Galinha Pintadinha” e foi a primeira vez de milhares de vezes que a gente ouviu essa mesma frase.
E aí deu o clique e a gente pensou pera lá, se a Galinha Pintadinha tá famosa vamos fazer um clip da Galinha Pintadinha. E daí, em 2008, com isso em mãos, a gente combinou o seguinte: tem alguma verba aí, dá alguma raspada de tacho, juntamos dinheiro, prometemos royalty para uma equipe também, pra baratear, e finalizamos o DVD e lançamos numa loja online.
Ou seja, a gente estava bem à frente do nosso tempo com Youtube, vídeo online, e deu super certo. E no ano seguinte, em 2009, a gente fechou o primeiro contrato com a Europa Filmes, que é uma grande distribuidora, e aí a Galinha Pintadinha começou a aparecer nas prateleiras das lojas. Então formou essa coisa mista, que é o digital e o físico, deu aquela linha que juntou tudo.
Em 2010 a gente fechou com a Som Livre pra lançar um novo DVD e daí em diante decolou. Daí foi peça, licenciamento, peça musical, eventos e tudo o mais.
EM – Depois desse sucesso, quais foram as etapas que você considerou fundamentais para que tudo se encaixasse. Você falou em direitos autorais, ok, fez sucesso, mas precisamos ampliar isso. O que é importante nesse processo – foi o marketing, foi a questão dos direitos autorais, enfim…

ML – Olha, o que eu vejo é que, o mais importante, foi a gente estar no Youtube mesmo. Eu costumo comparar a história da Galinha, mal comparando, com a história do Luiz Gonzaga, que foi trabalhar na rádio pra poder viver, e com ele trabalhando lá dentro a mídia rádio estourou. Acho que comigo aconteceu a mesma coisa.
Quando a gente subiu esse vídeo no Youtube ele nem pertencia ao Google ainda – ele era daquela empresa que fez o Youtube e vendeu pro Google. E aí o Google comprou, veio e aconteceu e deu mais impulso. Então a gente veio nessa onda do Youtube mesmo. Por muito tempo ele foi o único conteúdo infantil no Youtube, então se eu tiver que falar uma coisa vou falar isso.
Agora, foi muito importante depois, com o decorrer do tempo, assinar os contratos que a gente assinou, e assinar com as empresas certas, os parceiros sérios, e nesse ponto, nos momentos mais importantes, a gente não errou em nenhum, eu acho. Acertou em todos, mesmo.
Por isso acho que no crescendo, pra chegar até onde está, seriam essas duas coisas.
Ah, tem uma outra coisa importante também, que ele foi multiplataforma. Desde o começo, antes mesmo de a gente fechar com a Europa Filmes, a gente já tinha aplicativo para celular com o conteúdo. E também a gente foi um dos primeiros a fechar com a Netlix Brasil. Então era assim – pra onde você olhava, tinha Galinha – tinha na prateleira, tinha no celular, tinha no Youtube, tinha no Netflix, e isso formou uma massa crítica.
E aí lá por onde 2010, 2011 a gente se tocou que tinha uma marca na verdade, não era só conteúdo individual e aí partimos para o licenciamento, que foi mais um passo de passar do digital pro físico e essa combinação é que faz as coisas acontecerem de verdade.
EM – É, foi essa estratégia que deu certo. Você falou em parceiro certo, que tipo de parceiro certo vocês arranjaram?
ML – Acho que a Europa Filmes foi um parceiro certo, a Som Livre foi um grande parceiro também porque tinha muita mídia de antena parabólica, que, não sei se você reparou – hoje em dia nem sei se é assim mais, mas quem tem antena parabólica só recebe o sinal da cabeça, que é o mesmo que vai para as distribuidoras locais. E antigamente tinha um trecho que ficava em preto nessa tela, vazio, e eles perceberam que a gente tinha um calhau pra próprio Globo usar. Hoje em dia não sei se é assim ainda e ali a gente teve muita mídia porque o DVD estava fazendo muito sucesso, era um ótimo produto pra Som Livre, e ajudou a gente a entrar no Brasil profundo.
Então é uma soma de diversos fatores. E tem também a Redibra, que a gente assinou, que é uma empresa de licenciamento, que foi muito importante porque, quando a gente foi se aventurar nos licenciamentos…. aquela coisa, tem vários fabricantes, é um mercado que tem sua agenda durante o ano, tem os distribuidores, tem os compradores, tem os lojistas… então é um nó e eu acredito que ela é a melhor agência de licenciamento do Brasil, então foi mais um contrato que a gente fechou importante. Depois de algum tempo foram muitos contratos e muitos parceiros. Tem a Zero e Um, que é digital, que foi um parceiro nosso desde o começo, que colocou a gente no celular, mas depois de certo tempo foram muitos contratos, muitos parceiros, mas acho que esses foram os mais importantes.
EM – Hoje em dia quem é que forma a empresa. Tem você e quem mais?
ML – Eu tenho um sócio, o Juliano Prado. A empresa a gente sempre deixou muito enxuta e foi uma opção desde o começo. É em torno de 16 pessoas.
EM – E quem é que cria as histórias… a música você continua criando?
ML – Sim, estava fazendo isso agorinha. Ahahah.
EM – E quem cria as histórias, você também?

ML – Sim, eu e o Juliano, a gente escreve, a gente fica muito em cima da parte criativa, a gente gosta, é a parte que a gente mais fica em cima. Atualmente a gente tem contratado um ou outro roteirista para ajudar, até pra renovar as ideias, pra dar uma ventilada, mas em geral a gente mantém debaixo do braço.
EM – E é muito bom a gente fazer o que gosta, não é? Eu sempre fiz o que gosto. Falei pros meus amigos, patrão eu demiti todos, só pra fazer o que gosto.
ML – Ah, ah, por isso você tem essa cara boa…
EM – É, é sempre bom fazer o que gosta. Vem cá, me fala um pouco sobre o mercado infantil. O que você acha como ele está hoje, sem poder fazer propaganda, e mesmo assim é um mercado enorme. Eu li um artigo que você escreveu há pouco tempo falando que hoje os pais têm alguma ferramenta de controle que antes não tinha. Então eu queria que você falasse sobre o mercado em geral, infantil, e esse controle que os pais podem fazer e que é muito importante.
ML – Eu tenho uma visão um pouco particular desse controle que você está falando. O mercado infantil, a primeira coisa que tem de entender, é que ele está encolhendo, por uma questão de demografia mesmo. Uma vez eu tive uma reunião com japoneses – acho que é Sumitomo a empresa; uma empresa que tem 500 anos e eu nem consigo imaginar o que é uma empresa com 500 anos – e a conversa era justamente essa, eles estavam percorrendo o mundo para entender os diferentes mercados porque o mercado infantil japonês está encolhendo muito por causa da demografia deles; a população lá está encolhendo.
E eu acho que esse é um fenômeno mundial e isso já está acontecendo no Brasil, acho que a pandemia deu uma aceleradinha mais no processo… mas está encolhendo devagar. Mas continua um bom mercado…
EM – E é enorme….
ML – É enorme e para quem gosta de coisa infantil, eu gosto muito de canção infantil, trabalhar pra criança é divertido, muito embora tenha que ter muita responsabilidade… Eu vejo muito Youtube e vejo coisa muito irresponsável às vezes no que faz, fico muito bravo, tem gente tentando copiar a gente de qualquer jeito, sem pensar nas coisas que está falando, mas e aí, falando sobre esse controle, acho que o que quis dizer nesse artigo é mais um controle do Youtube mesmo. Eles assinaram um acordo lá nos Estados Unidos que basicamente tem a ver com retenção de dados pessoais de menores de idade.
Isso, na prática, virou o quê? – existem ferramentas na web 2.0… por exemplo, as propagandas que aparecem pra você tem a ver com os dados da sua navegação, eles olham suas atividades e tentam vender as coisas pra você. Com o conteúdo infantil não pode utilizar esse tipo de ferramenta. Então sumiram os comentários no Youtube – os nossos vídeos não têm comentários, eles não tem likes, não tem o sininho pra receber informação quando chegar, eles cortaram todo esse tipo de ferramenta.
Minha visão pessoal a respeito disso e que é uma postura estranha dos adultos… por exemplo, se você for ler o que não se pode fazer em propaganda infantil – não é que ela está proibida, existe uma série de restrições – é quase uma piada porque está escrito assim… não pode, eu nem lembro exatamente o que está escrito lá, mas é mais ou menos assim: não pode enganar uma criança. O que me leva a pensar o seguinte: o adulto pode enganar, e assim por diante.
EM – E é o que mais fazem….
ML – E é o que mais fazem. E eu vejo muito assim – eles estão querendo botar a criança numa bolha diferente da que está o adulto; o adulto quer comer chocolate, ele gosta de comer doce e a criança não pode comer doce, não pode comer chocolate. Imagino que seja um pêndulo indo ao extremo para depois encontrar um equilíbrio melhor.
Antes de ter filho eu era mais radical; depois que tive filho comecei a pensar um pouquinho melhor, puxa vida, todos nós gostamos de comer um doce – “vai perder a criança”, diziam. Vamos ser razoáveis, e vai muito da educação infantil, essa moderação tirada das mãos dos pais pra dar para as plataformas… eu gosto de pensar que as crianças têm um responsável ali que é quem vai moderar de fato as coisas, alguém olhando a criança, não um robô. Enfim, é isso.
EM – Esse é um problema sério, até porque hoje, muitas vezes, os pais trabalham fora e não conseguem controlar a criança. Esse é que é o grande problema. A gente trabalha aqui com a questão de patrocínio, principalmente à cultura. Vocês trabalham com patrocínio, tem patrocinadores?
ML – Não muito. Eventualmente nas peças de teatro, que é feito de paixão e prejuízo. Mas não é muito o centro de nosso negócio.
EM – A Galinha hoje tem no Youtube, tem ainda mídia física?
ML – Não, não tem mais.
EM – Teatro, livros, quais os outros produtos? O que mais?
ML – Brinquedo, diferentes plataformas como Netflix, Amazon Prime, HBO Max, aplicativo para celular, fraldas… tem um produto que é muito engraçado e divertido que é o ovo da Galinha Pintadinha. Eu lembro que quando vieram procurar a gente pra fazer nunca tinha pensado nisso e achei tão divertido que o ovo da Galinha Pintadinha ….
EM – … E o ovo é branco ou pintadinho também?
ML – É branco hahah. Tem vários produtos, várias frentes e é assim que a gente trabalha.
EM – E qual é o futuro que vocês veem para a Galinha Pintadinha. O que pensa para amanhã e depois de amanhã…
ML – Depois de amanhã, porque amanhã, semana que vem, tamos lançando agora, depois de muito tempo, eu voltei a produzir as músicas no DVD, que não é mais DVD porque DVD não tem mais nem onde tocar, você perguntou sobre a mídia física e nem a mídia física existe mais, nem o aparelho pra tocar, então estamos introduzindo o DVD 5. De uma maneira mais ampla, em parte continuamos produzindo conteúdo, acho que hoje quando você faz um conteúdo primeiro você conversa com o cliente final e um pouquinho com uma máquina, que é o algoritmo que fica rodando. E se faz isso através de conteúdo, não tem muito mistério.
De repente uns voos mais altos como longa-metragem, que está sempre no radar e pequenos projetos audiovisuais. Uma coisa muito importante pra gente é ter percebido que mudamos de fase. Em 2012 a gente era a novidade no momento, eram todos esses números enormes que a gente tem, mas era tudo novidade, então todo mundo queria saber quem era, quem foi, onde estava, agora não somos mais, é uma questão de manutenção da marca e o grande plano, o grande sonho na verdade, é que as crianças que cresceram ouvindo Galinha Pintadinha mostrem Galinha Pintadinha para seus filhos e isso está chegando, na verdade, porque se em 2008 já tinha criança assistindo, já são 14 anos né? Quem tinha seis anos já está com vinte. Então a cada ano que passa aproxima mais e quero muito que aconteça. Mas já vi, tem muita gente que escreve “eu cresci e vou mostrar pro meu filho” e é bacana, uma coisa transgeracional é muito legal.
EM – Qual é o próximo lançamento de vocês?
ML – A gente está lançando um single agora. A gente é “moderno”, estamos fazendo a mesma estratégia que a gente mesmo inventou, a verdade é essa. Lá atrás a gente lançou um single com a Galinha Pintadinha, depois lançou outro single com a Galinha Amarelinha, outro single com a música da Mariana e fizemos DVD, com álbum completo, e vendemos um monte, com milhões de cópias.
EM – Como se chama esse próximo?
ML – É o volume 5, Galinha Pintadinha Volume 5. Volume musical. Esse é o que está na fila. A gente está lançando o single e no meio do ano, não sei exatamente a data, vai ser lançado o álbum completo, possivelmente em alguma plataforma de streaming. Esse é o próximo passo que está no horizonte.
EM – Dos que vocês fizeram qual foi o maior sucesso?
ML – Tem uma música que chama Upa Cavalinho. É uma história interessante porque essa música é do quarto DVD, e faltava uma música para fazer e eu dei uma sentada aqui no escritório e fiz uma música assim ó (faz sinal de rápido) e pensei não vou inventar muita moda, vou fazer uma musiquinha simples, caprichei como sempre faço, gosto de caprichar, gosto de fazer, às vezes minha mulher precisa dizer para que já tá bom, chega, já tá mexendo muito, mas nunca me passou pela cabeça que ela teria o sucesso que foi, mas um dia eu estava na piscina com minhas crianças e eu vi uma avó com uma criancinha no colo cantando minha música e eu pensei ôpa, preciso por no Youtube, não tinha nem posto no Youtube, e pusemos lá. Hoje ela passou a casa de 2 bilhões de views, é um número grande até para a Ryanna, não sei se a Anitta tem algum vídeo com 2 bilhões de views.
EM – Agora os desenhos colaboraram muito pra isso também, né?
ML – Total, total, é uma obra audiovisual, eu não acho que foi minha música que fez. Ela colabora muito, mas não tenho essa visão, esse orgulho de dizer a minha é que tá lá. Acho que o produto mesmo, é o conjunto.
EM – Para quem quer entrar nessa área de música infantil, mercado infantil, tem algum conselho bom pra dar?
ML – Primeiro tem que gostar, eu acho. Acho um ótimo mercado, mas o conselho que eu dou é mete as caras porque música infantil acho divertida, acho gostoso, muito importante é ser o adulto que você é e, engraçado, às vezes eu vejo certas discussões sobre letras de música infantil que é só da cabeça dos adultos; as crianças não estão ligadas, e na hora de compor tem que tomar cuidado pra não deixar esse adulto ficar buzinando na sua cabeça, é difícil, tem se despir de determinadas coisas. Essa música Upa Cavalinho, se fosse eu eleger a música não seria essa.
EM – Qual seria?
ML – Talvez alguma com harmonia mais difícil, sabe aquele orgulho bobo que a gente tem? No fim ela me ensinou. Essa música me ensinou um pouquinho a ser mais simples no meu julgamento. Música simples ela já saí, demora quando quer fazer complicado.
EM – De onde surgiu a ideia do Meu Sangue Ferve por Você?
ML – Essa aí foi uma parceria que a gente fez com o Spotify. Nos procuraram pra fazer uma música que fosse diferente, causasse exatamente esse sentimento que você citou aí. De onde veio essa ideia? E o engraçado é que eles vieram com a ideia de Sidnei Magal, mas com Sandra Rosa Madalena. No entanto eu já tinha tido a ideia com essa música, não sei em que circunstâncias, ah eu lembrei, estava ouvindo a música e pensei: colocar essa música num arranjo infantil ela encaixa, porque mamãe falando isso prum filho tá tudo certo, né, você me enlouquece, você é o que quero, então eu disse vamos fazer aquela outra lá, fizemos e foi super divertido. Foi bom pra marca, foi um barato.
EM – Foi legal mesmo.
ML – Foi legal. E daí ficamos procurando quem era o autor e olha esse negócio de direito autoral pra música é um balaio de gato. Aí conseguimos, fechamos contrato e saiu a música.
EM – Hoje em dia é moda no mercado, todo mundo compra todo mundo. Vocês não receberam nenhuma oferta de alguém querendo comprar sua empresa?
ML – Algumas ofertas a gente recebeu, mas nenhuma interessante o suficiente. Porque eu não sou uma pessoa muito sofisticada, eu tenho uma vida muito simples. Então quando veem com uma proposta, com dinheiro, é difícil me fazer tremer entendeu, porque eu não tô precisando de nada, tenho meu cantinho agora, andando de bicicleta, está tudo certo pro meu lado. Veem só com a grana, de repente vem alguém me encher o saco e vou dizer esquece, não tô precisando. Sempre digo assim, se vier com uma estrutura por trás, daí é legal, seria viável, agora só dinheiro, dinheiro por dinheiro, não me interessa.
EM – E você já tem uma boa penetração internacional, não é? Principalmente no mercado hispânico?
ML – Muito. Muito grande. E é engraçado que foi uma coisa bem maluca mesmo. Tinha uma banda que chamava Restart e trabalhavam com a Zero e Um, que é o nosso parceiro pro digital, e um dia esse cara mostrou uma versão da música em espanhol deles, que era grande sucesso em espanhol. Aí pensei, puxa, essa música tem que gravar, só produzir e gravar. Traduzimos aqui no Brasil mesmo, achei uma tradutora nativa, uma cubana, traduzimos rapidinho, super fácil, e no fim me mandei pra Colômbia e México pra gravar. Lá tinha uma cantora que hoje em dia tá um pouquinho mais difícil de achar, que era contato. Corri lá, gravei as músicas e botei o primeiro clip pra trabalhar no México mesmo e aconteceu igualzinho aqui no Brasil. A música decolou sozinha, depois cresceu, cresceu, cresceu, já sem licenciamento e já bombando e com uma ótima penetração na América Latina e eu fui em Ushuaia. Você sabe onde é Ushuaia?

EM – Ushuaia é no sul da Argentina.
ML – Pessoal fala que é perto do fim do mundo.
EM – É perto da Antártica.
ML – Isso mesmo e aí tinha lá um cartaz da Galinha Pintadinha que fez um show em teatro lá. Pô, chegamos no fim do mundo.
EM – Mas aquilo lá é fim do mundo mesmo porque do outro do mar só tem…
ML – … pinguim, ahahah.
EM – É mesmo. Pinguim.
ML – Então estava lá, você vê que coisa. Então é legal. Foi bem também dentro do mercado norte-americano, não no licenciamento, esteve no Netflix muito tempo. Enfim, fez muito sucesso e faz ainda principalmente no mundo hispânico, México, Colômbia, Peru.
EM – A Galinha Pintadinha não tem concorrente, não?
ML – Tem concorrência sim. Hoje em dia muita gente imitou, a palavra imitou é um pouco forte, mas imitou.
EM – Navegar no mar…
ML – É, muita gente veio atrás, mas encaro com muita naturalidade que apareça alguma novidade. Acho que antes da gente tinha umas coisas e nós fomos a novidade; pode aparecer outros com novidade e é natural, é o ciclo natural das coisas.
EM – E se aparecer um concorrente é bom porque estimula.
ML – Faz acordar.
* É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural e Perfil de Patrocinadores, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.
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