Nubank Faz Parceria Com Dragão e Bate Recorde Com Uso de Lei de Incentivo

Eduardo Martins*
Syrax, um dragão com 15 metros, sobre o topo do prédio-sede do Nubank. (Divulgação)

A réplica do dragão de Rhaenyra Targaryen já está lá, no topo do prédio do Nubank, em São Paulo. Ele simboliza a parceria feita entre o Banco e a plataforma de streaming Max e HBO para o lançamento da segunda temporada de A Casa do Dragão, como parte das ofertas dos cartões Nubank+ e Ultravioleta.

Para provocar a participação do público, o mote da campanha é “Escolha Seu Lado”, aproveitando a trama do seriado que se baseia nos conflitos e tensões entre duas famílias, representadas pelo Conselho Preto e o Conselho Verde – Nubank escolheu o lado do Conselho Preto, representado pela imagem de Syrax, o dragão de Rhaenyra, aquele no prédio do Nubank.

A partir do dia 21 de junho, o Nubank, a Warner Bros. Discovery Global Themed Entertainment e a 2a1 Cenografia apresentarão a exposição “Game of Thrones & House of the Dragon Experience”, uma imersão épica no universo das séries do serviço de streaming Max, que acontecerá no Shopping Center Norte, em São Paulo.

A mostra será dividida em diferentes ambientes, que representam diversos aspectos da história das duas séries.  O local terá espaço exclusivo do Nubank e um espaço de gastronomia temático oferecido pelo restaurante Outback Steakhouse.

Outra campanha lançada recentemente pelo Nubank foi “Nubank N Possibilidades”, com o propósito de promover todo o portfólio de produtos da empresa.

Nubank foi mais uma empresa que se valeu do prestígio da Galinha Pintadinha

No comercial, uma família comemora a conquista de uma nova TV através de um dos produtos Nubank, e, quando chegam em casa, quem comanda o que vão assistir é a filha pequena, que logo se conecta aos conteúdos da Galinha Pintadinha e sua turma, série que ultrapassa 32 bilhões de cliques no YouTube e se mantém há mais de 50 semanas no TOP 10 da Netflix.

CULTURA — Mas, à parte suas campanhas institucionais, que se valem da arte ou do entretenimento para investimento direto, foi constatado que 2023 representou um “boom” recorde de investimento em projetos culturais utilizando lei federal de incentivo.

O salto de R$ 31 milhões em 2022 para R$ 64 milhões ano passado, elevou a companhia ao posto número 2 entre os maiores patrocinadores culturais que utilizam lei Rouanet – perdeu apenas para a Vale, que chegou aos R$ 200 milhões.

Se em 2022 as áreas escolhidas para incentivo foram Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Humanidades e Música, em 2023 todas foram contempladas.  

Porcentagem referente aos registros das áreas de interesse. Música é a preferida. (Fonte: Pronac)

Quantos aos perfis das ações patrocinadas pode-se dizer que de Artes Cênicas, em 2022, prevaleceram musicais como Torto Arado e Viva o Povo Brasileiro e a peça de teatro De onde vem o dinheiro? Em 2023 foi diferente, ao dar preferência a dois festivais: o Psica, que valoriza artistas e grupos folclóricos de Carimbó, expressão da cultura popular paraense, a quem direcionou R$ 3 milhões; e ao 17° Festival de Teatro da Amazônia (R$ 750 mil).

A região Amazônica, por sinal, recebeu atenção especial da companhia. Na área de Artes Visuais apoiou a Bienal das Amazônias Itinerância e a Bienal das Amazônias Sobre as Águas e a elas destinou cerca de R$ 7 milhões.

Do Pará, além do Psica, veio o Festiva Aceita, festival de artes integradas com grade de atividades culturais em diversas linguagens artísticas, a quem apoiou com exclusividade aportando R$ 2,9 milhões, e também o MOARA – Leitura de Mundo e da Comunidade, que propôs implementação de 50 bibliotecas populares em quatro municípios do Estado (R$ 852 mil).

Da região Nordeste foram patrocinados o Festival SSA Maping, festival internacional sobre memórias soteropolitanas, o Recôncavo Afro Festival, Restauração e readequação arquitetônica do casarão do século XVIII no Largo do Pelourinho, e Programa Neojiba, todos na Bahia; e Coquetel Molotov Negócios, projeto para dar maior visibilidade e divulgação dos artistas do interior de Pernambuco e das periferias do Grande Recife e Plano Bianual Paço do Frevo 2024-2025, ambos do Estado. A maioria dessas ações teve aporte exclusivo. Do Ceará foi beneficiada a Casa de Vovó Dedé.

Da região Sudeste receberam verba o MASP Exposição Histórias Indígenas e o Plano Anual de Ações Formativas Culturais, o Plano Anual do Instituto Tomie Ohtake – 2024/2025, o Plano Anual da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) e do Instituto Feira Preta, do Museu das Favelas, da Orquestra do Amanhã, do Sustenidos, do Theatro Municipal de São Paulo, além da Casa Sueli Carneiro.  

Da região Sul foi escolhido somente um: o plano anual do Museu da Cultura Hip Hop do Rio Grande do Sul.

Porcentagem referente aos valores aportados nas áreas escolhidas. (Fonte: Pronac)

TRANSPARÊNCIA — Se a instituição está utilizando cada vez mais incentivo com 100% de renúncia fiscal, cada vez menos há transparência sobre o que ela faz com o dinheiro. Desde quando começou a utilizar a lei Rouanet, em 2021, já se beneficiou de R$ 131 milhões direcionados a 58 projetos.

Em maio de 2022 anunciou a criação do Instituto Nu, cujo link não abre nem mesmo via site da empresa. Seu último post no Instagram data de janeiro de 2023 e não foram encontradas referências da razão do sumiço.

Quando foi anunciado adotou o seguinte discurso:

“O lançamento do Instituto Nu acompanha os princípios do Nu Impacto (link quebrado), a área de atuação ESG do Nubank — que lançou seu Manifesto no início deste ano — e tem como compromisso a geração de impacto positivo nas áreas de governança, social e cuidado com o meio ambiente. A proposta do Instituto Nu é reunir líderes inconformados para mudar os cenários sociais em favelas e comunidades do Brasil”.

A plataforma de inovação social da companhia saiu do ar — restou apenas o interesse em utilizar (bastante) o incentivo fiscal.

Mas isso não faz diferença para quem conseguiu o patrocínio.

Mas poderia fazer bem à imagem da empresa se fosse transparente com o que faz com ele.

POSICIONAMENTO DA EMPRESA – Após a publicação dessa matéria, o Nubank manifestou-se por meio de sua Assessoria de Imprensa buscando esclarecer que não há vínculo entre suas campanhas institucionais e utilização de leis de incentivo.

O comunicado está abaixo, embora não reconheçamos que a matéria sugeriu essa vinculação em função do parágrafo publicado sob o intertítulo CULTURA, que afirma:

CULTURA — Mas, à parte suas campanhas institucionais, que se valem da arte ou do entretenimento, foi constatado que 2023 representou um “boom” recorde de investimento em projetos culturais utilizando lei federal de incentivo”.

E se o Banco tivesse utilizado incentivo fiscal para suas campanhas, essa informação constaria na relação de projetos patrocinados pela empresa, conforme publicamos. E não está.

Mas respeitamos a solicitação do Banco e segue abaixo seu posicionamento:

“Nubank esclarece que as campanhas “Disney” e “N Possibilidades” foram realizadas com verba direta de marketing, sem vínculo com leis de incentivo fiscal. A empresa apoia projetos incentivados que são criteriosamente alinhados com seus valores, como a parceria com o MASP, o Psica Festival em Belém (PA) e a peça “Viva o Povo Brasileiro”. Os investimentos em projetos sociais via leis de incentivo fiscal são conduzidos diretamente pelo Nubank, e não pelo Instituto Nu.

Os canais oficiais da empresa estão sendo reformulados e a previsão é que a página do Instituto Nu esteja disponível no segundo semestre de 2024.

Vale reforçar que o Nubank mantém a transparência de suas iniciativas de impacto social, relatadas anualmente em seu relatório ESG”.

*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.

SERVIÇO

Homepage: imagem é de divulgação da HBO.

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