
Os 380 imóveis do Triângulo Histórico da região central de São Paulo ganharam um Manual Ilustrado com dicas e orientações para ajudar no resgate e na preservação dos núcleos históricos da cidade. Os prédios estão localizados numa área de aproximadamente 185 mil metros quadrados entre as ruas Benjamin Constant, Boa Vista e Líbero Badaró, por entre as quais circulam cerca de 600 mil pessoas, diariamente. As edificações são representativas da arquitetura bancária praticada na década de 1920, que se concentrou na área central da cidade e dentro dos limites desse “triângulo”.

Na lista apresentada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento consta o Banco Britânico da América do Sul / Edifício Gastão Vidigal/Edifício Theotonio Negrão, na Rua Álvares Penteado, n°165. Em estilo neoclássico simplificado, “ostenta ornamentação discreta pautada no contraste que se observa entre o revestimento do pavimento térreo, em granito polido, com os demais pavimentos, em argamassa pintada de branco com pilaretes monumentais a ladear os módulos de esquadrias e culminando na cimalha decorada por frisos, modilhões e, no topo, ânforas”.
Trata-se de um projeto de 1925 e de responsabilidade técnica da empresa Scott & Urner Ltda, construído para abrigar a sede do British Bank of South America Limited em São Paulo. Segundo o memorial descritivo, “o imóvel apresenta, como partido de projeto diferenciado em relação a seus congêneres, um pequeno recuo em relação ao alinhamento da rua (cerca de 40 cm, segundo o memorial descritivo de 1926) no trecho central da fachada junto ao vão de seu acesso principal”.
O Palacete Lara é outro exemplo das 380 propriedades encravadas no Triângulo Histórico da cidade de São Paulo. Localizado na rua Álvares Penteado, n°177-185, o edifício, “de linguagem eclética, com a primorosa composição que caracteriza as obras da Siciliano & Silva, possui uma fachada plenamente adornada com cártulas, cimalhas, consoles etc.”. No pavimento térreo, descreve o Guia Ilustrado, o enquadramento da porta de acesso aos demais pavimentos também apresenta uma decoração rebuscada, com pilastras e folhagens e, complementando o desenho do portal, uma placa com o nome do edifício. “Revestido de argamassa decorada com bossagens rusticadas no térreo e no primeiro pavimento, estas, no restante da fachada, são mais suaves”.
Um dos locais mais frequentados da região é o prédio do Banco do Brasil e Centro Cultural Banco do Brasil, erguido na confluência das ruas Álvares Penteado e da Quitanda. Projetado nos idos de 1929 por Hippolyto Gustavo Pujol Junior, destaca-se na área em razão dessa sua localização – que lhe confere visibilidade privilegiada. Construído em alvenaria de tijolos com lajes de cimento armado, o edifício apresenta uma composição de cinco andares (incluído o porão, além do torreão), de expressiva qualidade formal que denota a solidez e a segurança fundamentais a um estabelecimento bancário.
Por sua vez, as fachadas são ornamentadas dentro dos padrões decorativos do ecletismo que vigorava à época. A planta desenvolve-se ao redor de uma imponente área central – coroada e iluminada por uma claraboia – e está circundada, nos dois primeiros andares superiores, por galerias
O Edifício “Ouro Para o Bem de São Paulo” é outro exemplar do Triângulo Histórico. Projetado por Severo & Villares Cia Ltda/Escritório Técnico Ramos de Azevedo, é de 1939 e foi construído pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia com o dinheiro arrecadado pela Campanha do Ouro de 1932 – movimento popular que recolheu joias para financiar a Revolução Constitucionalista, marcada pela insurgência paulista à Revolução de 1930.
Frustrada a pretendida tomada de poder diante do governo federal, os recursos financeiros remanescentes foram doados à Santa Casa, tanto para a construção de um prédio comercial em terreno de sua propriedade, no Largo da Misericórdia, como, ao mesmo tempo, para prestar uma homenagem a este episódio da história de São Paulo.
Dicas e normas legais
Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), o Manual do Centro Histórico foi elaborado para chamar a atenção da população quanto à importância da paisagem urbana e orientar as ações individuais e coletivas que possam ajudar a preservar e resgatar a história da cidade. Até o início de agosto deste ano de 2021 a Secretaria ainda não havia tabulado quantos proprietários já teriam promovido melhorias em seus imóveis a partir das recomendações encontradas no Manual. E esclarece:

“O guia reúne dicas para valorizar ou recuperar a fachada do imóvel, como padronizar cores e embutir ou ordenar elementos na paisagem (instalações elétricas, ar-condicionado, antenas, entre outros). Traz normas legais e orientações para que proprietários e locatórios de imóveis do Triângulo Histórico se sintam motivados para manter ou promover as devidas intervenções nas suas fachadas, realçando a beleza da arquitetura de São Paulo”.
A cartilha levou dois anos para ser concluída. Lançada oficialmente em maio de 2021, o guia foi subsidiado por estudos em conjunto com entidades do poder público e da sociedade civil, isto é, a Subprefeitura da Sé, Secretaria Municipal da Cultura (DPH e Museu da Cidade) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
A SP-Urbanismo vistoriou e analisou cada um dos prédios do Triângulo Histórico para identificar pontos que desvalorizam a arquitetura de cada um deles e da cidade, como pichações, infiltrações, peças danificadas, entre outros. Assim, o documento traz fichas técnicas para cada imóvel daquela região. O material também oferece informações técnicas sobre os edifícios (autor do projeto, data da construção, quantidade de pavimentos e outras) e o diagnóstico da SP-Urbanismo a respeito desses imóveis.
O Brasil foi um dos primeiros a criar uma legislação – o Decreto-Lei nº 25/1937 – com o objetivo de proteger, preservar, divulgar e gerir seu patrimônio histórico e artístico. Como é amplamente conhecido, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) foi a primeira denominação do órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Criado em 1937, iniciou oficialmente a proteção ao patrimônio histórico, tendo realizado como sua primeira tarefa o levantamento dos bens de interesse histórico e cultural nacionais a serem preservados.
Embora o projeto original formulado por Mário de Andrade estabelecesse uma noção mais ampla do que devia se entender por patrimônio cultural, lamentavelmente prevaleceu uma visão restrita, voltada para os bens arquitetônicos e artísticos, chamados por alguns de “patrimônio de pedra e cal”.
SERVIÇO
Manual com as fichas dos imóveis pode ser consultado por aqui
(Assine e seja também um construtor de Valor Cultural)