Na busca por um nicho interessante, em meados de 2020 fomos pesquisar com as ferramentas do nosso Perfil de Patrocinadores o ramo de Farmácias e Drogarias por razões que nem é necessário explicar. Voltamos a esses segmentos agora para verificar se algo mudou no comportamento delas, já que a pandemia por coronavírus potencializou os ganhos desse mercado.
De acordo com dados divulgados pela IQVIA, nos últimos doze meses, fechados em junho, ocorreu um crescimento de 13,21% em comparação com o mesmo período de 2021. O faturamento das farmácias, de julho de 2020 a junho de 2021, foi de R$ 144,86 bilhões. Já no período de julho de 2019 a junho de 2020 esse valor havia sido de R$ 127,96 bilhões.
Lucros maiores ainda tiveram os laboratórios farmacêuticos e calcula-se que o faturamento global desse grupo de empresas esteja na casa dos 30 bilhões de dólares.
Mas como agem as empresas desses setores quando o assunto é patrocínio à cultura no Brasil? Quanto desses bilhões é direcionado para apoiar projetos culturais? E quem apoia, escolhe o quê? Tudo é feito com lei de incentivo?
Usando o Perfil de Patrocinadores para obter essas respostas, selecionamos algumas delas, grandes e médias, nacionais ou regionais, pertencente às categorias de Farmácias, Drogarias e Laboratórios.
Confira o resultado:
LABORATÓRIOS
PFIZER
O que aconteceu de novidade em 2020 foi a volta da Pfizer na aplicação direta com uso de lei de incentivo após seis anos de ausência. E em 2021 já endereçou perto de R$ 400 mil para o Instituto Baccarelli.
Mas por onde ela mais aplica utilizando lei Rouanet é pela Wyeth. Em 2020 foram duas exposições patrocinadas; já em 2021 foram quatro. O valor aplicado também dobrou, afinal lucro não faltou à empresa impulsionado pelo coronavírus.
ASTRAZENECA
Outro laboratório que deu impulso na aplicação em projetos durante 2021, em volume financeiro e ações beneficiadas, embora estatística deve ser relativizada quando aponta 100% de crescimento – nesse caso ela passou a apoiar dois projetos em vez de um.
Se em 2020 havia beneficiado apenas uma ação (Ubuntu), com R$ 200 mil, em 2021 patrocinou dois, mas um de sua própria larva: o AstraZeneca Viva a Cultura. Mas o valor aplicado foi o mesmo direcionado para o Mulheres na Ciência, exposição sobre a trajetória feminina na história da ciência e da produção de conhecimento: R$ 800 mil.
No total a empresa já fez uso superior a R$ 10 milhões com lei federal de incentivo.
Mas tem um proponente favorito.
Em julho/21 anunciou que só no primeiro semestre as vendas de sua vacina atingiram o valor de 1 bilhão de dólares. Nos países emergentes foram US$ 455 milhões.
ABL – ANTIBIÓTICOS DO BRASIL
Tem interesse em ações ligadas a saúde e socioculturais. Hospitalhaços e Promovendo Cultura nos Hospitais são dois projetos cujos planos anuais são apoiados por essa empresa há vários anos. Ela complementa apoio para outras ações também com conotação social, embora sem ligação com saúde: a Escola Arte do Bem e o Calendário de Atividades Socioculturais do Instituto Ingo Hoffmann.
Seu perfil de interesse é claro, por isso sempre há possibilidade de novas parcerias. Já aplicou R$ 2,2 milhões em projetos culturais.
ACHÉ
É fácil identificar a linha adotada por essa empresa quando se trata de patrocínio. Seus interesses estão em planos anuais, mas em 2020 aconteceram coisas diferentes como exposição envolvendo saúde e cultura e o Baile Menino de Deus, tradicional em Recife (PE).
Tem forte parceria com o Instituto Tomie Ohtake, cuja sede fica em edifício que lhe pertence.
Seu investimento com lei federal ultrapassa R$ 3 milhões.
EMS
Tirando iniciativas como reforma do Museu do Ipiranga, planos anuais como os do Mozarteum e MAM e musicais que a pandemia tratou de calar, sobrou pouco espaço para projetos como a peça de teatro Loucura e Vida por Delícia Maria como foi o caso em 2020.
Em 2019 a brecha foi coberta pela produção cinematográfica de média metragem chamada Cavallaria – Regimento 9 de Julho, mas recebeu dinheiro pouco (R$ 50 mil).
Em 2020, somente para o Museu do Ipiranga, foi aplicado R$ 1,5 milhão; em 2021 mais R$ 279 mil.
LIBBS
É especializada em produtos oncológicos.
Foi uma das empresas que mais sumiram com a transparência sobre seu envolvimento com cultura. Desapareceram de seu site a Política de Patrocínio que mantinha, o campo para encaminhamento de proposta, critérios para apoio; tudo, enfim, que mostrava clareza de intenção no apoio à cultura.
No ano de 2020 não houve patrocínio a ninguém, mas em 2021 prestigiou um curta-metragem que tratou da história de amor entre dois idosos com 80 anos.
Desde quando começou a patrocinar com lei federal de incentivo (1999), a Libbs beneficiou somente três áreas: Artes Cênicas, Audiovisual e Humanidades.
Suas ações buscavam ter sintonia com o tema saúde e para isso usou com frequência os segmentos de Dança e Teatro. Hoje seu compromisso com a sociedade, como afirma em seu site, é apenas com o projeto Tempo é Saúde, que envolve a implantação da plataforma e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), a revisão dos processos de primeiro atendimento e triagem e o treinamento de profissionais de todas as 15 UBSs de Embu das Artes (SP).
Ela não oferece mais nenhuma visibilidade ao uso que faz do dinheiro público, mas usufruiu de cifra superior a R$ 11 milhões para se beneficiar da renúncia fiscal.
BLAU FARMACÊUTICA
É especializada em oncologia, nefrologia, hematologia e infectologia, entre outras categorias.
Em 2018 assumiu a identidade de patrocinadora de ações ligadas diretamente à saúde.
Em 2019 e 2020 também apoiou projeto que previa realização de cortejo musicado com canções, figurinos e itens do cenário inspirados na cultura popular brasileira, além de um livro de valor artístico e exposição fotográfica.
Em 2021 ingressou com apoio a oficinas culturais e Mundoteca.
A Blau Farmacêutica não perdeu o interesse em projetos ligados à saúde, mas ampliou seu olhar para outras ações, principalmente oficinas artísticas. E o volume de suas aplicações vem crescendo ano a ano.
Já fez uso de R$ 6,3 milhões com lei Rouanet.
ABBVIE
É biofarmacêutica global, com foco em pesquisa. Suas áreas de negócios incluem Imunologia e Virologia, entre outras.
É um patrocinador recente, que tem escolhido duas instituições ligadas a saúde como patrocinados preferenciais.
Aplicação total: R$ 1,7 milhão.
SANDOZ
Divisão da multinacional Novartis, é líder global em medicamentos genéricos e biossimilares.
Tem interesse em saúde e eventos de teatro. Já patrocinou a Fundação Bachiana Filarmônica, manutenção do grupo Cisne Negro de Dança e exposição. No segmento de música erudita apoiou Domingo no Teatro, ao ar livre, e Ocupação Teatral, ambos em São Paulo.
Patrocinou também o documentário A Cura Tem Cura, que mostra os momentos vividos pelas pessoas quando receberam seus diagnósticos. Em 2019 prestigiou Associação que promove cultura nos Hospitais.
Mas nada aplicou em 2020 e nem em 2021.
Total de aplicação foi de R$ 950 mil.
APSEN FARMACÊUTICA
100% nacional, atua em áreas como urologia, reumatologia, otorrinolaringologia, neurologia, geriatria, psiquiatria, gastroenterologia, ginecologia, ortopedia e clínica geral.
O que mais essa empresa tem apoiado são musicais, mas também já patrocinou peça de teatro infantil.
Mas ficou três anos sem apoiar ninguém; só voltou em 2020 ao destinar R$ 595 mil para o musical Chicago.
Sua contribuição beira os R$ 5 milhões.
GEOLAB
Também 100% nacional, trabalha com linhas de medicamentos tarjados, genéricos e oftálmicos.
Era um colaborador constante de festivais de dança de Anápolis (GO), sede da empresa, mas depois resolveu apoiar exposição fora do Estado, até voltar às origens e patrocinar livro sobre a presença árabe em seu município.
Em 2020 voltou a patrocinar um livro, mas com verba bem pequenina.
Já aplicou, no total, R$ 520 mil.
FARMACE
Há mais de 20 anos no mercado, seu portfólio é composto por 67 medicamentos.
Apoia projetos como acervo para memória de cantador, documentário sobre Padre Cícero, festa de Santo Antônio, romance Parangolé do Fuxico do Vai-e-Volta e até escola de samba. Quase tudo cearense.
Já apoiou o Festival do Audiovisual Luso Afro Brasileiro, com atividades em Fortaleza, Redenção e Baturité, todos municípios cearenses.
Em 2018 e 2019 patrocinou a Festa de Santo Antonio de Barbalha (sede da empresa), de quem é mantenedor exclusivo. Objetivo é manter as tradições culturais do Cariri. Em 2019 fez grande aporte para essa ação. Em 2020 escolheu opções diferentes e em 2021 projeto envolvendo teatro de bonecos.
Já aportou R$ 2 milhões no total.
FARMÁCIAS E DROGARIAS
DROGARIAS SÃO PAULO E PACHECO
Ambas fazem parte da holding DPSP S/A, formada em 2011 para controlar essas duas empresas que têm forte presença em São Paulo e Rio de Janeiro (Pacheco).
As escolhas de patrocínio são centralizadas e nem sempre os projetos beneficiados são os mesmos, embora haja interesse comum por Teatro, especialmente musicais. O grupo foi o principal financiador da reforma do Teatro Itália, em São Paulo.
Além de teatro demonstra interesse por exposição e já houve aplicação em plano anual de associação que promove cultura nos hospitais e também em musicais como Chicago.
Em 2021 ambas colaboraram com um projeto de média metragem. Tema foi a história da primeira médica negra no Brasil.
De seu nicho de mercado, Grupo é o maior investidor cultural com aplicações que já somam cifra superior a R$ 13 milhões.
RAIA DROGASIL
A RD – Gente Saúde e Bem-estar, empresa líder no mercado brasileiro de drogarias, com mais de 1.800 lojas em 22 estados brasileiros, foi criada em novembro de 2011 a partir da fusão entre Raia S/A e Drogasil S/A. É a maior rede de drogarias do Brasil em receita e número de lojas. Mudou a marca corporativa para RD.
Tem preferência por projetos que levam peças de teatro para hospitais. Doutores da Alegria é seu favorito, mas outros dessa linha já se beneficiaram. Fora desse nicho prefere exposições, mas que tenham alguma conotação sociocultural. Em 2020 começou a apoiar a Orquestra Parasinfônica de São Paulo.
Na área social é focada em projetos ligados à Educação, Saúde e Inclusão Social e destinados a crianças, adolescentes e idosos.
É a segunda maior patrocinadora de cultura nesse ramo de atuação, com valores aplicados superiores a R$ 10 milhões. Em 2020 bateu recorde de aplicação em projetos culturais com uso da lei federal de incentivo.
DROGARIA ARAÚJO
Centenária rede de comércio farmacêutico em Belo Horizonte, com 140 lojas espalhadas pela região da cidade além de Betim, Contagem, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, Sete Lagoas e Vespasiano.
Desde 2012 adotou Instituto HAHAHA, que leva intervenções artísticas aos hospitais de Belo Horizonte.
Em 2019 abriu duas exceções: ajudou a viabilizar a exposição Eat Parade e bancou sozinha a edição do livro Mercado Central – 90 anos. Em 2020 quase toda a verba também foi para o Instituto, mas fez pequena colaboração com um livro de valor Literário sobre Belo Horizonte.
Em 2021, só deu o HAHAHA com aplicação superior a R$ 300 mil.
Seu aporte a projetos com lei federal de incentivo já ultrapassa R$ 3,5 milhões.
HYPOFARMA
Especializada em medicamentos injetáveis, possui linha completa de medicamentos genéricos e similares, voltada para o segmento hospitalar. Seu parque industrial está localizado em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte.
Houve grande mudança na política de patrocínio da empresa em 2020 e triplicou os investimentos em outras ações que não fosse a Associação Cultural Divina Providência, que até então ficava com quase toda a verba.
Foram incluídos projetos de teatro de bonecos, teatro viajante e manutenção de Museu.
Começou a patrocinar projetos em 2018, todos ligados a uma associação cultural, que desenvolve ações como bandas e fanfarras, iniciação musical e orquestra com o mesmo fim, voltado para alunos atendidos na Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo.
Aplicações saltaram para mais de R$ 1,5 milhão desde 2018.
DROGARIAS NISSEI
Com mais de 30 anos de tradição no mercado paranaense, e com atuação nos Estados de São Paulo e Santa Catarina, é considerada a sétima maior Rede de Farmácias do País.
Foi somente em 2017 que essa influente rede utilizou pela primeira vez lei de incentivo para patrocinar projeto cultural.
Escolheu um que apresentou 64 espetáculos de música instrumental e narração de crônicas gratuitos para comunidades de baixa renda.
Em 2018 preferiu prestigiar livro sobre os 110 anos da imigração japonesa.
Não fez uso da lei de incentivo em 2019, mas voltou a aplicar em 2020, embora com verba pequena – foram R$ 20 mil destinados ao espetáculo Quebra-Nozes.
Já destinou mais de R$ 350 mil em projetos culturais.
GRANADO
Fundada em 1870 pelo português José Antônio Coxito Granado, a botica permanece até hoje na rua Primeiro de Março, no centro do Rio de Janeiro, que antes se chamava Rua Direita. É fabricante de diversas marcas, sendo Phebo entre as mais conhecidas.
Faz mais uso de sua distribuidora para apoiar projetos culturais, que já patrocinou Festival que buscou um olhar contemporâneo sobre o carnaval por meio de exposição de indumentária de carnaval, desfile de moda com tema carnavalesco, baile infantil de carnaval, espaço para novos produtores e criadores relacionados à atividade de carnaval, intervenção de artes visuais e apresentações musicais.
Tem demonstrado interesse no segmento de jazz e bancou sozinha o Festival Cine Out Jazz, que prometeu levar filmes, música, arte e gastronomia ao Planetário da Gávea (RJ).
Outras ações apoiadas foram ligadas a museus.
Já utilizou pouco mais de R$ 1 milhão em projetos culturais com lei federal de incentivo.
Muitas outras empresas no segmento de Farmácias e Laboratórios constam em nosso Perfil de Patrocinadores. Ele é uma ferramenta exclusiva para os assinantes dos nossos Portais, onde estão catalogadas mais de 1.200 empresas que patrocinam cultura, e que podem ser pesquisadas sob a análise de diversos parâmetros.
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