Pesquisa acadêmica mergulha no universo do empresário artístico e analisa a relevância econômica e cultural do mercado de shows ao vivo em nosso País.
O Brasil é o segundo maior mercado de música ao vivo na América Latina, atrás apenas do México, segundo a Entertainment and Media Outlook da PwC5 (2016). A receita desse segmento, em 2010, foi de US$ 165 milhões. Em 2014, aumentou para US$ 205 milhões e estima-se que, em 2019, atinja US$ 280 milhões. Apesar dos números expressivos, não há uma formalização estrutural sobre essa atividade no Brasil. Não é sabido, de forma unificada, a quantidade de escritórios de agenciamento artísticos (EAA’s) existentes e seu faturamento total, não havendo informações sobre market share, penetração etc. Os dados disponíveis sobre o negócio da música se concentram no setor fonográfico, ou seja, referem-se à venda de fonogramas, no formato físico, digital ou via inserções em produtos audiovisuais ou publicitários.
Em meio a esse mercado relevante da cultura brasileira, emerge a figura do empresário artístico, mas cujo papel ainda não foi devidamente sistematizado e compreendido, dada a ausência de artigos acadêmicos com esse tema.
Ao entender que essa é uma figura chave para o sucesso de uma carreira artística, Anita Carvalho, mestranda em Gestão da Economia Criativa pela ESPM-RJ, e Juliana Bittencourt, mestranda de Museologia (FLUP, Porto – Portugal), desenvolveram o trabalho denominado “Empresariamento Artístico – Pesquisa Anual de Mapeamento do Mercado”, onde buscaram apresentar o atual panorama dessa atividade e analisar a relevância econômica e cultural do mercado de shows ao vivo em nosso País.
A pesquisa teve três objetivos: a) identificar os modelos de negócio praticados entre artistas e empresários; b) dimensionar o mercado de shows no Brasil (quantidade de shows realizada por ano e o valor médio de cachê); e c) identificar as principais fontes de receita dos escritórios de produção.
Os autores optaram por dividir o trabalho em duas etapas, quantitativa e qualitativa, estabelecendo três eixos de consulta: a) empresários artísticos; b) artistas; c) profissionais do mercado. Na etapa quantitativa, foi utilizado o método survey, por meio de questionário via Google Docs, contendo perguntas objetivas, cujas respostas atendessem aos propósitos da pesquisa.
A pesquisa quantitativa realizada com empresários artísticos buscou identificar sua principal fonte de receita, ficando evidenciado que a venda de shows é a fonte majoritária. Um dos resultados permite inferir que são realizados aproximadamente 55 mil shows profissionais por ano no Brasil, movimentando valor aproximado de R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais).
Nas entrevistas qualitativas, alguns artistas apresentaram a ausência de empresário como principal barreira para alcançar determinados resultados. Quanto maior a projeção do artista, maiores as chances de ele encontrar empresários dispostos a desenvolver um trabalho. Por outro lado, o artista em início de carreira provavelmente terá dificuldade de encontrar profissional disponível e interessado.
A pesquisa abordou aspectos como associação de classe, perspectiva do cenário econômico, ambiente de negócios, aspectos políticos-legais, fontes de receitas, modelos de negócios, relação com gravadoras e relação artistas x empresários.
A pesquisa qualitativa abrangeu entrevistas com dezenas de artistas e empresários.
A conclusão do trabalho é de que o empresário artístico tem um papel fundamental no desenvolvimento de carreiras artísticas e que há espaço no mercado para novos profissionais, cuja maioria não possui formação acadêmica na área e baseia a tomada de decisão em aspectos empíricos e intuitivos.
Como sugestão para prospecções futuras, as autoras propõem um estudo mais aprofundado sobre esse mercado, considerando também os estilos musicais e aspectos geográficos, além de pesquisa com o consumidor de shows ao vivo, a fim de cobrir as limitações contidas nesse trabalho.
Anita Carvalho, principal mentora e executora até o final deste estudo, mantém um site com o objetivo de mapear o empresariamento artístico por meio de um formulário de pesquisa que pode ser preenchido por atores desse mercado, sejam eles escritórios de empresariamento, empresário independente ou artista que se auto-empresaria. O endereço é //pt.surveymonkey.com/r/empresarioartistico
A pesquisa completa pode ser acessada por Aqui.
SERVIÇO Anita Carvalho (anita@musicaemidia.com.br) é mestranda em Gestão da Economia Criativa, graduada em Administração com foco em Marketing e Gestão do Entretenimento pela ESPM, sócia da Música & Mídia Produções desde 2008 e possui uma coluna diária na Rádio Mix FM sobre economia criativa.
Juliana Bittencourt (juvibit@gmail.com) é bacharel em Administração (ESPM, Rio de Janeiro, 2017) e mestranda de Museologia (FLUP, Porto – Portugal)