
Desde os tempos da Marketing Cultural impressa tive certa queda por empresas que utilizam arte para sua comunicação. Passear hoje por São Paulo é muito mais agradável do que no tempo em que a insuportável poluição visual, causada por anúncios e campanhas, desviavam nossa atenção em uma cidade por si só estressante. Até que, certo dia, um Prefeito resolveu acabar com aquilo, mesmo sem saber o impacto que seu gesto causaria.
A causa se deu por meio da Lei Cidade Limpa, promulgada em 26 de setembro de 2006 pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2007. Seu objetivo? Eliminar da paisagem urbana anúncios publicitários, letreiros, outdoors, placas comerciais e preservar a memória cultural e arquitetônica da cidade.
O efeito, ou o melhor efeito, veio mais tarde, de uma forma que nem mesmo o alcaide previra – a disseminação da arte pelas ruas da capital. Foi como trocar o lixo pelo luxo; o cinza pelo colorido; o olhar do chão para o alto e enxergar beleza em lugares antes impensáveis de encontrá-la.
E grande parte dessa transformação se deve a uma agência chamada Dionisio.AG, que não é uma agência de publicidade, mas é uma porção de outras coisas. E foi por causa dessas outras coisas que resolvi entrevistar um dos sócios para que ele explicasse qual é o processo de produção e criação de tantos e variados projetos, entre eles as empenas que transformaram fachadas de prédios paulistanos em obras de arte.
O QUE ELA FAZ? – Ela se define como um hub de inovação artística, que é um ecossistema colaborativo para fomentar a inovação e impulsionar o desenvolvimento de novas ideias e tecnologias. A Dionisio funciona como um terceiro braço das agências (de publicidade, live marketing, eventos ou PR) e de setores de comunicação e marketing dentro das empresas e, além disso, cria e soma com projetos independentes e demandas oriundas do poder público, escolas, exposições, ou mesmo daqueles que não tem muita grana, mas tem uma excelente ideia.
E ela trabalha exatamente assim:
Após o alinhamento geral do briefing, realiza-se a curadoria de qual seria o(a) artista mais apropriado(a) para materializar aquela ideia. Em seguida, passa-se para a produção; a elaboração prática do projeto. Nesta fase, quando requerido, são resolvidos eventuais processos burocráticos que possam surgir, cuidando, também, da liberação dos espaços onde o projeto se desenvolverá.
Em 2023, foi adicionado um novo setor que atende a uma demanda que passou a ser bastante recorrente entre os clientes: os projetos incentivados por lei. Uma área da agência fornece as orientações necessárias, desde a forma como o projeto deverá ser redigido, até os cuidados com documentações, captação de recursos ou, como acontece em muitas empresas, a possibilidade de dar um novo destino ao recolhimento fiscal.
Assim, passa-se para a etapa da entrega do projeto. Primeiro, mostra-se ao cliente como ficará o resultado final (mockups e simulações digitais). Após a aprovação, começa a produção efetiva, garantindo que, exatamente, o que foi aprovado será entregue. Em seguida, alinha-se com a assessoria de imprensa do cliente como se desenvolverá o release e como se dará o planejamento de comunicação.
E dessa forma já atendeu clientes como Disney, Azul Linhas Aéreas, Marvel, Royal Canin, Porsche, Nike, Lollapalooza, Itaú, Ford, BTG Pactual, Vivo, Amazon, Melitta, Tegra Incorporadora, Volvo, L’Óreal, Bayer, RedeTV, Burger King, Alelo, entre tantos outros.
O que mais me chamou a atenção foi o espírito de “cooperativa” modelada para ter em carteira artistas talentosos capazes de atender qualquer demanda, sob a curadoria de ninguém menos que o internacionalmente conhecido Eduardo Cobra (que tá mais pra Papa nesse universo).

PROJETOS – Essa marcha dos acontecimentos, narrada acima pela própria agência, já resultou em centenas de projetos de revitalização de espaços, exposições com hologramas, eventos de empresas, customização de produtos e empenas, muitas empenas, até com aplicação de tinta italiana que elimina poluição, vírus e bactérias no ambiente em que foi aplicada…mas não só.
“Aqui na Dionisio.AG, ao fechar um projeto, nossos clientes têm sempre a opção de adicionar um videocase que ilustra todo o processo do trabalho, desde a criação dos primeiros rascunhos até as últimas pinceladas da materialização da ideia. Dessa forma, os projetos poderão ser apresentados, posteriormente, de maneira cativante, através de uma narrativa audiovisual.”
Os videocases, ela explica, contam, por meio de uma narrativa emocionante, a história por trás do desenvolvimento dos projetos, iluminando os detalhes de cada processo e trazendo mais significado para a entrega, gerando ainda mais conexão e sentido.
Exemplo marcante é o da Ararinha Azul, projeto feito para Azul Linhas Aéreas, com participações das marcas Coral e AkzoNobel.
Objetivo era resgatar as ararinhas azuis, que estavam em extinção no Brasil, e trazê-las para voar sobre o nosso céu novamente através de uma aeronave colorida.
Para isso foi pintado um avião da Azul, em arte assinada pelo artista Pardal, conhecido por seus desenhos de pássaros. E a aeronave mais colorida do Brasil continua circulando por aí.
O processo de construção via vídeo para esse caso pode ser visto abaixo:
Questões de sustentabilidade, de como pequenos produtores têm chance de contratar a agência, de como tudo derivou de um simples blog, como se contorna a Lei Cidade Limpa, são temas abordados em entrevista com o sócio Rafael Araújo, com intervenções da Diretora de Comunicação, Larissa Mazza.
Afinal, como digo na abertura de meu LinkedIn, “no final o que conta mesmo são as histórias”.
Acompanhe a entrevista seguindo pelo link abaixo
Sócio da Dionísio.AG Conta Como Ela Criou Uma “Cooperativa” de Artistas
*É Editor-Chefe de VALOR CULTURAL/Marketing Cultural, que têm entre seus propósitos dar visibilidade a bons projetos ou ações, valorizar empresas que praticam patrocínios conscientes e apontar aquelas que fingem ser o que não são no campo da Responsabilidade Social.