Você já ouviu falar em “jabá”? Provavelmente não, se for da geração X e Y. Esse termo era dado ao apresentador de rádio que recebia uma grana para tocar em seu programa a música de determinado artista. Quem estava começando raramente escapava dessa obrigação.
Hoje só o site Palco MP3 tem 115 mil artistas cadastrados, 18 milhões de visitas/mês e 111 milhões já fizeram download de seu aplicativo. Gigantes como Spotify, Deezer, Youtube catapultam para o sucesso talentos que sem a tecnologia viriam reduzido a quase zero a possibilidade de se tornarem conhecidos. O mercado de games no Brasil movimentou nesse ano cerca de US$ 1,5 bilhão e o mercado interno é responsável por 35% da receita gerada pelo setor na América Latina. O streaming tornou desnecessário comprar consoles e mídias, o que ampliou o desafio para desenvolvedores encontrarem novas formas de vender produto ou serviço. E se o desktop é a plataforma mais utilizada ainda hoje, basta lembrar que, nos próximos cinco anos, o número de usuários de internet móvel no Brasil quase duplicará para entender que o mundo, realmente, caberá na palma da mão.
Toda essa revolução tem no aplicativo um componente decisivo. Quem só escuta rádio e vê televisão virou um pária dentro desse universo paralelo representado, especialmente, pelo Youtube, e os sucessos, cantados hoje em festas viraram fenômeno graças a aplicativos como o do Palco MP3.
“O Brasil é um país culturalmente muito rico e diverso. É muito importante democratizar o acesso a música e dar espaço para novos artistas. Se não houvesse iniciativas como o MP3 talvez muitos talentos não teriam espaço para mostrar seu trabalho”, afirma Bernardo Ruas, um dos proprietários do site.
Nascido em 2003 com a ideia de dar visibilidade aos usuários do Cifra Clube, que divulgava bandas, passou a desenvolver aplicativos para outras plataformas em 2008, e para a telefonia móvel em 2012 com a popularização dos smartphones. Hoje Bernardo mistura negócio com prazer.
“Não importa se o artista tem muito ou pouco play. Nossa paixão é descobrir música boa e mostrar isso sempre para a nossa base de usuários. Pra gente é extremamente gratificante saber que o próximo artista favorito das pessoas passou pela nossa curadoria e divulgação de alguma maneira. Nos esforçamos para ser um filtro de excelência quando o assunto é divulgar artistas independentes brasileiros, simplesmente porque amamos a música produzida no nosso país. Queremos conectar esses artistas com fãs ao redor do Brasil para que eles consigam cada vez mais divulgar, trabalhar e vier da sua arte”.
O rapper Hungria, do Hungria Hip Hop, concorda e não poderia ser diferente. Ele alcançou, em janeiro, a impressionante marca de 1 bilhão de visualizações em seu canal oficial no Youtube.
Ouça Coração, do Hungria Hip Hop, no Palco MP3 //www.palcomp3.com/hungriahiphop/
“É incrível quando você libera uma música nas plataformas digitais, seja qual for, e em questão de uma semana as pessoas já começam a cantar nos shows. Acho que tudo é devido a esses aplicativos que surgiram – eles encurtam o caminho da música ao fã e ao público no geral. Eu entro constantemente, consigo conhecer novos trabalhos e viro fã de novo talentos, fico por dentro de novas tendências”.
Na América Latina, o Brasil é um dos maiores players em termos de uso de Internet. Em 2015, conforme levantamento do site Avazu, todos os países da AL tinham 332 milhões de usuários, sendo 114 milhões de brasileiros. Esse imenso mercado ainda aguarda a chegada de novos desenvolvedores de aplicativos, pois ele oferece oportunidades para esse que é um dos campos de trabalho com maiores possiblidades de crescimento.
No meio de 2017 o Ministério da Cultura publicou edital para apoiar o desenvolvimento de 40 aplicativos ou jogos eletrônicos inéditos e originais, voltados para a disponibilização de serviço cultural, no valor de R$ 20 mil para cada projeto. Eram duas categorias para escolher, sendo 20 para o item audiovisual, como data-base, jogo de perguntas, visualização de filmes, edição de vídeos, rankings de filmes/séries, programação de salas de cinema, etc; e 20 para Cultural Livre, com temática cultural livre.
Foram perto de 400 candidatos inscritos abrangendo todas as regiões do País e cada uma delas teve representantes no resultado final. O projeto que teve maior pontuação foi de Hendrik Teixeira Macedo, de Sergipe, com o APP Artecidade – Transformação Artística da Arquitetura Urbana. Obteve 8,67 de média final.
O APP Annie Market Forescat, influente analista desse mercado, publicou em abril desse ano que a previsão de 2017 para o mercado móbile era de movimentação de US$ 82,2 bilhões de receita e US$ 139 bilhões em 2021 (em 2016 foi de US$ 61,8 bilhões). E os maiores responsáveis por esse crescimento serão os países emergentes, com a China na liderança – Índia, Brasil e Indonésia vêm a seguir.
Ouvir Bernardo Ruas dizer que em seu site e aplicativo não são apenas os artistas com mais plays que ganham espaço, “pois nossa intenção é dar visibilidade para artistas de qualquer tamanho e que nossos critérios básicos são qualidade e diversidade”, só faz refletir como a tecnologia chegou mesmo para mudar.
E alguém ainda se lembra do “jabá?”.
(Fontes: Avazu: avazuinc.com. App Annie Marketing Forecast: ppannie.com e pesquisa Game Mobile Brasil, realizada pela ESPM em parceria com a desenvolvedora de jogos Sioux e com a Blend New Research).
Entrevistas concedidas a Gabriela Oliveira.
Para ver a íntegra da entrevista com Bernardo Ruas, clique Aqui.
Para ver a íntegra da entrevista com Hungria ver Aqui.